quinta-feira, dezembro 30, 2010




4) Sai da Defensoria a tempo de curtir as férias de julho de boa, prestei Mackenzie e em agosto de 2008 me mudei pra São Paulo. Ainda na minha primeira semana lá, enquanto no meu apartamento só tinha um colchão inflável e meu notebook com wi-fi furtada dos vizinhos, troquei uns emails, com meu melhor amigo da faculdade, que também estava em São Paulo, trabalhando no escritório de um tio dele, escritório que –bendita sorte - estava buscando um novo estagiário naquela época (eu ainda estava estudando pra prestar a OAB pela segunda vez). Mandei meu currículo e mesmo contando que estava estudando publicidade, fui contratado. O escritório tinha três sócios, vários advogados contratados, secretária, responsável pelas finanças e fora eu e meu amigo mais uma estagiária. Agora o negócio era sério. Eu tinha que ir pra vários fóruns acompanhar de verdade o andamento dos processos (cada fórum em São Paulo fica em um canto mais longíncuo que o outro, o que foi bom porque me ensinou a chegar onde eu quiser hoje em dia) e o pior: eu tinha que entender o que estava acontecendo neles! Falar com os clientes também era pior, já que eles eram abonados e dessa vez tavam pagando pelo serviço! Foi bem foda no começo, mas nada com que não desse pra se acostumar. Chato mesmo era ter que usar terno (na defensoria eu de formal só usava camisas, mas eram coloridas, usava calças rasgadas e ia barbudo e cabeludo mesmo. No escritório parecia crime se eu não fizesse a barba e pusesse gravata, sendo que uma vez usei uma camisa amarela e fui apelidado de Coronel Mostarda). O pessoal era incrivelmente gente fina, mas admito que não soube aproveitar isso na época, fora o fato de eu ainda namorar, era todo travado vestindo terno, tinha vergonha de usar ternos que não eram de grife, odiava que zoassem meu sotaque e tinha até vergonha de ser eu mesmo (bobo), pelo menos no começo. Fora isso, eles freqüentavam lugares caríssimos onde eu não me sentia nem um pouco a vontade, coisa que hoje em dia, já acostumado com as facadas paulistanas, eu já saberia lidar melhor. O trabalho não era chato e olhando pra trás se eu tivesse que fazer tudo de novo, provavelmente agiria com mais vontade, menos preguiça (vocês entendem também agora que até o momento, tinha sido tanta moleza que eu tava mal acostumado) e teria continuado lá por mais um tempo. Meus chefes, primeiro a coordenadora de Trabalhista e depois o coordenador de Civil sempre foram fodásticamente gente finas comigo, sempre aliviando minha barra e tentando me ajudar a crescer no escritório (mas eu sempre tava mais preocupado com voltar pra Jaú no final de semana, trampos do Mackenzie ou lançamentos no cinema e acabei jogando fora tudo que me ofereciam, fazendo na maior ma vontade as peças que davam pra eu fazer depois de eu ter tirado minha esperada OAB). O mais legal desse trampo (fora o salário, que era fantástico e eu ainda tive dois aumentos enquanto estava lá) era poder trabalhar com um amigo de faculdade. Porra, você acabava de imprimir uma peça, ia o cara lá e carimbava onde não devia, desenhava alguma bosta e você tinha que imprimir de novo. Ai você esperava ele se distrair e esvaziava o grampeador dele, deixava a tampa do furador de papel semi aberta pro chão ficar cheio de confete, grampeava a gravata dele no terno. Nossos emails do trabalho tinham mais piada, ou alguma coisa do batman do que coisas processuais. Isso não tem preço. O escritório ainda era super bem localizado, perto de chegar de onde eu moro, perto de uma loja especializada em bonecos de super heróis e de uma banca especializada em hqs. Depois também entrou outra estagiária, que fazia Mackenzie, que logo se adaptou a zoeira nossa de cada dia. Junto com a mulher da administração, nosso time anti-trabalho e almoços baixa-renda (simplesmente não dava pra acompanhar os advogados mais antigos) estava formado. Fiquei la quase um ano e meio, até o final do ano passado, quando um daqueles momentos de virada chega na sua vida (o meio veio no formato de um pé na bunda) e eu vi que era hora de mudar tudo porque do jeito antigo não tava dando certo. Gostava de direito, gostava das pessoas (ok,,a nova coordenadora de Civil era meio irritante, irritantemente perfeccionista e isso ajudou muito minha saída), mas sabia que tinha nascido mesmo pra ser publicitário e com um email histórico de despedida onde foi pela primeira vez cem por cento gustt (não mal educado, fazendo piadas sem graça mesmo) me despedi dessa fase da minha vida. Ironicamente, meu amigo e toda a gangue do sossego também foi mandada embora, um a um, tempos depois e os próprios sócios se dividiram em escritórios diferentes. Caralho, e não é que deu saudade desses tempos também¿

Bom, essa é minha saga empregatícia até os dias de hoje, espero que alguém tenha tido saco pra ler inteira, mas ainda que ninguém tenha lido gostei assim mesmo de ter escrevido. Até a próxima, galera!

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