quarta-feira, março 17, 2021

Um ano depois do fim do mundo

 "- A morte sempre me pareceu injusta.
  - Podemos fazer algo a respeito?
  - Escrever, escrever muito."

(Trecho de uma entrevista que faz parte do documentário "Gabo", sobre a vida do escritor Gabriel Garcia Márquez, disponível na Netflix)

    E eis que dia 13 de março, completamos um ano de pandemia. Um ano de isolamento, um ano de home office. Um ano sem amigos, mais distante do que nunca da família, um ano sem festa, sem churrasco, sem show, sem cinema, sem teatro, sem exposição, sem Comic Con, um ano sem graça.
    Faz muito tempo que eu não abandonava o blog por tanto tempo, mas a verdade é que eu nunca deixei de ser o Gustt por tanto tempo. Gusttman era um cara divertido, que sempre tinha novidades e planos mirabolantes pro futuro. Gustavo é um velho casado, acima do peso que trabalha com números e não faz nada pra se divertir além de ler quadrinhos e jogar videogame. Faz tempo que não bebo da poção mágica do druida Panoramix e me transformo no diabo da tasmânia, uivo pra lua e grito de alegria. Hoje vivo de memórias, tenho saudades de tudo, de todos e de mim.
    Outro motivo pra ter deixado o blog pra trás, apesar de até terem acontecido várias coisas dignas de nota dentro dos últimos 365 dias é que minha cabeça pode facilmente desandar pra cantos mais escuros nesses dias de prisão domiciliar. 
    As vezes eu imagino, por exemplo, que se  eu me suicidasse me jogando da janela da sala, poderia cair exatamente em cima de uma banca de revistas. Seria bastante poético ter como porta de saída, exatamente um lugar que sempre foi minha principal porta de entrada pras mais diferentes e incríveis aventuras no universo dos quadrinhos. 
    Fiquem tranquilos, eu jamais faria isso. Mas se você vive no Brasil e não está desesperado, provavelmente não está por dentro de tudo que está acontecendo. Tem gente morrendo de uma doença pra qual já existe vacina, muita gente, todos os dias. E só não existe vacina pra todo mundo ainda por pura incompetência dos governantes e também porque até ontem tinha uma porrada de gente que era anti-vacina, não vamos deixar que essas pessoas se esqueçam de que tem grande parte da culpa também.
    Falando nisso, eu nunca tive tanta vergonha de ser brasileiro. Vergonha real. Passamos de povo amistoso a povo contagioso. Tenho vergonha de ver que o bosta do presidente ainda representa boa parte de seu eleitorado crente e ignorante. Tenho vergonha do negacionismo e da desinformação. E tenho ainda mais vergonha de viver cercado de pessoas que não fazem nada a respeito. 
    Eu queria muito poder dizer que estou aproveitando esse tempo fora do blog pra escrever, mas apesar de ter tido muitas ideias, poucas foram desenvolvidas. Muitas ideias tem o Corona como ponto de partida e não estou com cabeça pra isso. Quem sabe um dia?
   No conto chamado "O último reality show", por exemplo, 10 pessoas saudáveis são confinadas dentro de uma casa junto de 10 pessoas contaminadas com um vírus letal. O pessoal de casa vota pra decidir quem ganha um leito ou um galão de oxigênio. Pouco a pouco, o público acompanha o fim dessas 20 vidas ao vivo, no maior canal da TV aberta. 
Acho que esse seria o único jeito de sensibilizar de verdade a população. Afinal, as pessoas parecem muito mais preocupadas com o que se passa no BBB do que no mundo real. E tenho certeza de que tem muito negacionista que ama essa merda de programa.
    Em "O Coroavírus", um velho centenário descobre o segredo da imortalidade. Ele começa a divulgar esse segredo para seus melhores amigos, que por sua vez também passam o segredo pra frente. Então, pouco a pouco e organizados através de grupos de Whatsapp, os idosos do mundo todo forjam suas próprias mortes, usando uma epidemia global falsa, que eles usam pra se afastar de suas famílias e evitarem cerimônias de sepultamento. Os idosos começam a desaparecer do planeta e vão viver escondidos em um lugar melhor (algum lugar como a Lua ou o centro da terra, não decidi ainda). 
    Seria uma história feliz, com final feliz, mas que teria um pósfacio chocante recheado de notícias reais que fizessem as pessoas cair na realidade o mais rápido possível, cujo objetivo seria fazer com que o leitor sentisse que estava recebendo um soco no estômago depois de degustar um delicioso hamburguer.
    Também comecei uma fanfic sobre Arquivo X (série mais datada do que nunca, já que hoje em dia a verdade nem importa mais), na qual os agentes Mulder e Scully vem pro Brasil investigar um vírus falso e descobrem uma vacina que implanta chips 5G nas pessoas pra que elas sejam controladas por torres de celular. No começo do episódio, as pessoas com quem eles conversam acham que é um plano dos comunistas, mas no final obviamente é coisa dos alienígenas. Essa história praticamente se escreve sozinha, afinal é quase um documentário.
    De qualquer forma, apesar escrever muito pouco, tenho tentado aproveitar meu tempo do melhor jeito possível. Faço aulas de italino e espanhol no Duolingo, terminei um curso online em Harvard, comecei a fazer uma pós, aprendi a jogar xadrez, voltei a desenhar, e tenho acompanhado mais do que nunca as aulas de culinária que a Amanda me dá na cozinha (sério, essa mulher consegue fazer qualquer coisa, de bomba de chocolate a bife Wellington).     Além disso, comecei um canal sobre cultura pop no Youtube, com um amigo que manja muito de edição de vídeo. Toda semana eu escrevo (ou pelo menos edito) boa parte do texto dos episódios, então se você tem saudades de ler algo escrito por mim, não deixe de se inscrever no nosso canal: https://www.youtube.com/c/HQueroseneOficial
     A Amanda e a Luna (minhas companheiras de cela) tem me ajudado a manter a sanidade, mas é impossível não sentir falta do velho normal, que na minha época a gente chamava só de normal.
    Bom, acho que já falei bastante por hoje né? Vou tentar tirar o pó daqui do blog com mais regularidade...Até a próxima!