terça-feira, outubro 04, 2011

Agora, mudando completamente de assunto, tive que escrever esses tempos um trampo sobre a Boca do Lixo, lugar onde o Zé do Caixão e outros cinegrafistas do cinema marginal, como o cara que fez o Bandido da Luz Vermelha pra facul. Não são exatamente meus filmes favoritos, mas conta um pouco da historia da pornochanchada e o porque de terem saídos tantos filmes toscos nessa linha. Tem uns fatos legais tipo o nascimento do teste do sofá pelo meio, então decidi postar pra quem quiser ler.

A Boca do Lixo
Não é fácil acreditar que a região que hoje é conhecida como “cracolândia”, já foi um dos maiores pólos de produção cinematográfica do pais. Na área que hoje abriga principalmente prédios velhos e deteriorados, cortiços e casas de prostituição, tanto de mulheres como de travestis, era nos anos 60, conhecida como Boca do Lixo tinha o seu glamour."Dizia-se que, quando o fulano virava a esquina da Rua do Triunfo, logo empertigava o corpo fazendo pose", diz o pesquisador Nuno César Pereria de Abreu, professor e cineasta, estudioso do tema.
Empresas renomadas como a Paramount, a Fox e a Metro se instalaram por lá, graças a sua localização estratégica próxima estações da Luz e Sorocabana. A região ao redor da Rua do Triunfo se transformou em fabrica de cinema: distribuidoras, fábricas de equipamentos especializados, serviços de manutenção técnica e diversas empresas do ramo se reuniriam no local. O problema é que a localização próxima as estações rodoviária e ferroviária da luz, com vários hotéis e casas baratas, também atraia todo tipo de malandro e prostitutas.
Assim, apesar da concentração de artistas que a região tinha naquele tempo, a Boca sempre foi uma região perigosa. As ruas Vitória, Andradas, Aurora, Gusmões e Timbiras já carregavam o ar de ilegalidade, mas diretores da época, contam que havia um pacto não oficial de respeito entre a bandidagem e o pessoal do cinema, já que a industria injetava dinheiro e gerava emprego para os moradores do local. Esses excluídos e personagens do submundo,eram inclusive, tema recorrente da linha cinematográfica que acabou sendo batizada de cinema marginal.
Mas o que motivava tanta gente a trabalhar com o cinema nacional, se hoje, que é tão mais fácil produzir um filme, esse e um ramo que não atrai tantas pessoas? Um fato muito importante: a existência da lei de obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais, de 1968, que fechava os cinemas que não estivessem passando filmes nacionais e que acabou criando uma espécie de reserva de mercado, e que foi um impulso precioso para o desenvolvimento desta indústria no pais.
De um lado, existi ao incentivo da Embrafilme, órgão que financiava a elite do audiovisual, e do outro, nas bordas, o pessoal que fazia as suas gravações na Boca, gente de todo tipo, como donos de bares ou comerciantes, que começou a se tornar investidor de filmes B, já que os custos eram baixos e eles conseguiam se identificar com as temáticas exibidas.
Faziam parte dos gêneros da Rua do Triunfo a pornochanchada (comedia erótica), faroestes, cangaços, kung-fus, melodramas e aventuras de segunda linha, todos favoritos das classes sociais mais baixas.Era um cinema popular feito e financiado por populares. Entre os diretores que fizeram história com o cinema da Boca estão Rogério Sganzerla, Candeias e Jose Mojica Marins, o Zé do Caixão.
Os próprios donos dos cinemas, começaram a se associar ou mesmo a produzir filmes, lucrando como exibidores e como produtores. Assim, entre 1970 e 1980, produziu-se uma média de 90 filmes nacionais por ano, dentre os quais,quase 40% vinham da Boca.
O fim da Boca, no início dos anos 1980 coincide exatamente com a decadência do regime militar. A Embrafilme perdeu força política, dando espaço para desobediência à lei de obrigatoriedade de exibição de produções brasileiras, e cresceu a pressão das distribuidoras internacionais. Os preços dos ingressos foram subindo tanto, a ponto de as classes mais populares não terem mais condições de irem ao cinema, que de qualquer modo, já não exibia mais filmes criados pensando neles.
As pornochanchadas foram perdendo espaço para os filmes pornô eróticos e a fama do local foi ficando cada vez mais suja. Pra se ter uma idéia, o Zé do Caixão, que se orgulha de ser um dos primeiros caras a gravar um filme com zoofilia no mundo (que fez tanto sucesso que ficou um ano em cartaz), diz que foi na região que nasceu o ‘teste do sofa’ e que tinha mãe que oferecia a virgindade da filha por uma vaga em um filme. Tão suja que hoje, entre os que discriminam a Boca do lixo, estão muitos artistas que começaram suas próprias carreiras cinematográficas la, gente como Tarcísio Meira, Xuxa, Vera Fischer e Walter Salles.

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