terça-feira, junho 09, 2015

De volta para o passado

Eu, aManda, e meus pais aproveitamos o feriado prolongado pra visitar meu irmão no interior do interior do interior de Minas Gerais, na reserva onde ele mora há mais de um ano ajudando um projeto de reflorestamento. 

O mais legal de tudo é que quando me perguntam pra onde eu fui eu posso responder "1965". Foi mais uma viagem ao passado do que a um local específico. O lugar não era importante, mas sim o "quando" representado pelo modo de vida da roça (ou de qualquer lugar do mundo no passado): estradas de terra, charretes, praças, igrejas, Veris são unidades de medida e cerveja barata.

Na quarta a noite pegamos um onibus na rodoviária Tietê (único lugar do mundo onde o Bob´s ainda tem filas quilométricas), e dali foram 10h de viagem até Muriaé, uma viagem que nem foi tão desagradável já que o bus tinha até wifi, revistas de bordo e dois banheiros. Muriaé tem praticamente um museu de videogames, e de lá um ônibus pra Rosário da Limeira, que parava em cada curva por que passava. No caminho, vimos até um "protesto" na estrada, onde aprendemos que 4 pessoas e uma fogueira ali eram suficientes pra caracterizar uma manifestação lol.

Quando chegamos em Limeira, meu irmão e sua namorada já nos aguardavam na praça, onde aproveitamos pra tomar algumas cervejas com o maravilhoso preço local. Quatro reais a breja! Great Success!
 
Algumas cervejas depois, ficamos sabendo que meus pais ainda demorariam algumas horas pra chegar, então paramos numa lanchonete pra mais algumas cervejas e porções supertemperadas de frangolombo e vaca. Saindo de lá, fomos almoçar (de novo) na Casa das Dar um arroz, feijão e leitoa frita. Meus pais chegaram logo depois, na hora do café e de lá fomos (forçados) pra uma missa em Belisário, onde a rua (única ou principal) estava enfeitada com pó de serra, e onde se seguiu uma mini procissão. A missa durou 2h, mas em 30min eu já havia me lembrado do porque tinha abandonado o habito de frequentar a igreja. Músicas tristes e sonolentas, mensagens repetitivas e nenhum questionamento. 

Saindo de Belizário, seguimos a moto de meu irmão através de uma estrada de terra infinita até a reserva. Muitas curvas, nenhum poste de iluminação e um caminho lento e pedregoso faziam com que 10 km parecessem 100 e só depois de muito tempo chegamos até a reserva, onde a cozinheira das equipes que vem pra conhecer o local, nos aguardava. As 19h30 ela bateu uma colher em uma panela para chamar o pessoal e serviu mais uma típica janta caseira num ambiente que me lembrou muito o mochilão, ainda que agora com a companhia de meus pais e minha namorada e uma garrafa de vinho.

Depois disso, meu irmão nos mostrou o centro onde costuma dormir, sua coleção de aranhas, a biblioteca e nossos aposentos: uma casinha no topo da montanha. Não era um hotel 5 estrelas mas também estava muito acima de qualquer lugar onde tenhamos nos hospedado na Bolívia (tinha um banheiro próprio, livre de insetos, por exemplo), mas claro que já era o suficiente pra minha mãe e namorada surtarem (=b).

Na sexta-feira de manhã, tomamos café da Carminha com pasta de amendoim da roça (nice!) e abelhas (meu irmão comeu até um ferrão, como se fosse apenas uma porção extra de açúcar) e nosso Guia nos ensinou a escalar uma palmeira (ensinar significando "mostrar como", e não "tentamos em seguida", obviamente) e nos levou através da trilha soft de Ervas Medicinais, exibindo o quanto aprendeu de ecologia e conhecimento da flora local. Abri até um urucum, usado desde os tempos mais primórdios pra extração de tinta vermelha. Pegamos até água pra beber direto da cachoeira, visitamos sua "sala de aula" de pedras e ouvimos a história do mundo mítico, que era basicamente assim: era uma vez um planeta constituído basicamente por ouro e pedras preciosas. Alguém da Terra foi pra lá e os caras ofereceram tudo de graça e perguntaram do que era feito nosso planeta. Os terráqueos responderam que era de terra, uma coisa onde você pode plantar muita coisa e gerar todo tipo de vida. O pessoal do outro planeta ficou maravilhado, pra eles nós vivíamos no mundo mítico! 

Por mais que tenha sido rápido, o rolet pelo interior da mata de verdade é o que melhor define o que aquele lugar tem de tão mágico. A quantidade de verde e vida transpira por ali, e não fica tão difícil imaginar porque alguém trocaria uma vida na cidade por aquilo (ok, ok, eu não trocaria, preciso de meus gibis, minhas pré-estreias no cinema e cerveja gelada, mas consigo entender). 

É até irônico que exista tanta gente por ali procurando (provavelmente em vão) por uma força maior dentro de quatro paredes abafadas por um cântico repetitivo, enquanto o verdadeiro Nirvana ("a superação do apego aos sentidos, do material e da ignorância; tanto como a superação da existência, a pureza e a transgressão do físico a qual busca a paz interior e a essência da vida") pode ser encontrado logo ali nas montanhas, que recortam o horizonte da cidade. 
 
Almoçamos na casa do Felizberto, o frei fazedor de velas mais um almoço caseiro típico da fazenda (arroz, feijão, linguiças caseiras, macarrão, angu, ovo, queijo e mangaba) e conhecemos uma cachoeira linda próxima à propriedade dele depois de uma caminhada de 2km. 

Voltamos pra cidade buscar a namorada do bro e de lá partimos pra Muriaé, visitar o mercado (e comprar brejas artesanais locais lol) e jantar numa pizzaria top que fica escondida em uma rua tipo paraty uma pizza e umas porções. Fato curioso 01: Lá descobri que além de árvores e animais, também temos comidas em extinção, o que me deixou realmente preocupado. Palmitos estão sendo substituídos por pupunha (o que talvez não seja tão ruim, já que acabam com as árvores pra fazer o palmito), salmão está virando algum outro peixe com corante e até meu querido atum está indo pra lista de coisas que quiçá sejam tão comuns no futuro como os dodôs! 

Voltando de lá (mais umas 437 horas de viagem, talvez km), caímos direto em nossas camas em Iracambi. Fato curioso 02: a Amanda tem medo de beliches, e acha que existem 90% de chances da pessoa que dorme abaixo ser esmagada pelo usuário da cama superior.

Sábado de manhã, tomamos café na reserva, arrumamos as malas e fomos até a casa da namorada do meu irmão almoçar: estrogonofe, lombo recheado e um peixe empanado sensacionais. Depois do almoço, pegamos logo a estrada porque meus pais tiveram que nos trazer até São Paulo (não encontramos passagens de ônibus), e muita gente voltou questionando o que meu irmão esperava da vida perdendo tempo naquele lugar, ainda que seu sorriso demonstrasse que ele não tinha pressa e que e sua própria camiseta exibisse uma única mensagem: "nirvana".

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