quinta-feira, março 04, 2010

Ah, antes de continuar a história, outro adendo, agora contendo a versão do Guto e do meu irmão pro dia que eu sumi: ´Estávamos em Cusco, o umbigo do mundo (chove todo dia, e no umbigo acumula água, palabras do Guto), no Mama África (eu só ia saber diferenciar esse lugar dos outros dias depois), encontramos as brasileiras de Potosi de novo e uns cariocas que conhecemos em Quijarro. O gust começa a cair em cima dos outros, da a blusa pro Guto segurar, fuma com umas argentinas e some pela porta do Mama África. Guto e Gui saem correndo atrás dele, procuram no banheiro, saem da balada correndo e não o encontram. Começa a Saga. Os dois voltam pro Mama África e não o acham, procuram pela Plaza e em outras baladas (sempre perguntando pelo moicano). Voltam pra primeira balada e não o encontram de novo. Vão até o hostel, entram no quarto, perguntam pro cara da recepção e não me encontram. Voltam pra Plaza central. Perguntam pro segurança de uma balada por um cara de ´perro moicano´(pelo = cabelo, perro = cachorro) e o segurança dá risada, falando que perros não eram permitidos ali. Então eles sentam na escadaria da praça, chega um cão, eles fazem o vídeo que pode ser visto no meu canal no youtube sobre a busca. Eles então passam minha descrição pra Polícia Turística, que prometeu me procurar. O guarda perguntou se eu estava ´tomado´. Guto responde ´um poquito´ e o guarda dá risada. Então os dois voltam pro hostel e não me encontram de novo. O recepcionista do hostel pergunta se eu tinha ´pinton´ (era boa pinta), e que se fosse o caso poderia estar com chicas. Meu irmão e o Guto então deram risada e explicaram que ´pinton´no Brasil era pintudo e não boa pinta. Aí eles ficam conversando sobre pinto e falsos cognatos e o Guto vai se deitar. Meu irmão passa a madrugada na recepção, fazendo amizade com um australiano, que até convidou ele pra ir pra casa dele. Então chega uma funcionária do hostel chorando porque na rua haviam apontado uma arma pra ela, só pra preocupar um pouco mais o meu irmão. Gui vai então pro bar do hostel com os australianos e quando decide finalmente ir deitar, encontra o Gust milagrosamente na cama. Gui acorda seu irmão, o xinga e vai dormir. Fim do adendo.

O rafting no rio Urubamba foi bem diferente do que fizemos em Brotas, no rio Jacaré Pepira. O rio peruano não tinha quedas dágua, mas em compensação tem uma correnteza muito mais forte. É tão comum as pessoas caírem na água, que antes de irmos pros botes paramos num alojamentozinho onde nos deram roupas térmicas, jaquetas, capacetes e coletes salva-vidas. No busão, conhecemos o Vinícius e o Pedro (um Java alternativo), que não sabíamos mas no futuro ainda fariam a trilha inca e morariam no trem com a gente. Partimos então pros botes, praquela liçãozinha básica de comandos, como em brotas, só que em español (Comandos: Adelante, Atrás, Esquierda, Derecha, Dentro) Também demos sorte porque nosso guia era muito mais animado e gente fina que o que pegamos em Brotas (o Guto, homemória, lembrava até que ele chamava Dimas). No bote fomos eu, meu irmão, o Guto (que logo se ofereceu pro cargo de Hombre Cuerda, o cara que tinha que pular na água pra amarrar o bote na margem quando necessário, na verdade, mesmo antes dele se oferecer, depois que o Diego sonhou que ele era o líder eu e meu irmão sempre empurrávamos ele pra qualquer decisão ou posição de comando), dois velhos argentinos (um deles um hijo de la putana que toda hora pulava pra dentro do bote e parava de remar) e a filha de um deles. Os gaúchos dividiram o bote com um velho gordo do Alasca que tava com uma puta gostosa, que logo advínhamos ser uma acompanhante de luxo. A vista de dentro do rio é fabulosa, cercada de montanhas e a velocidade que o bote vai graças a correnteza é animal. Foi muito fera! As fortes e freqüentes chuvas já tavam começando a afetar o rio, que tava ficando mais forte do que o normal, tivemos ate que fazer parte do percurso a pé, pelas pedras que cercam o rio (que se bobear era mais perigoso do que ir por dentro dele) porque os guias ficaram com medo de perder o controle dos botes e se virassem ali na correnteza, quem caísse tava fudido. Outra coisa foda é que a água era gelada para caralho, e toda hora vinha uma onda na nossa cara, saímos dos botes tremendo de frio e temendo pegar uma gripe bem antes da trilha inca. Quando acabou o rafting, voltamos pro alojamento tomar um banho quente e tomar uma sopa tinindo de quente (eu que nunca fui muito fã de sopa, tava achando a comida mais deliciosa de mundo só de diminuir o frio fodástico que eu tava sentindo). Depois ainda serviram um pollo frito (faltando tempero, como a maioria dos frangos que nos foram servidos) com salada, batatas fritas e arroz. Aí ofereceram pra quem quisesse fazer um zip line (tipo uma tirolesa, só que você vai amarrado pela cintura) sobre o rio. Eram quatro passadas sobre o rio, por 25 soles, e eu e o Guto acabamos fazendo. Na primeira, quando eu subi no pilar de onde saia o zipline, não tava conseguindo fazer minhas pernas pararem de tremer de medo. Juro, foi mais tenso pra mim do que pular de pára quedas, se eu morresse da queda de páraquedas, seria instantâneo, eu nem ia sentir nada, se eu caísse do zipline, ia cair num rio com uma puta correnteza forte do caralho, onde ninguém ia conseguir me salvar nem se quisesse e eu ia ficar me debatendo no rio por sabe lá Deus quanto tempo. Mas depois que a primeira viagem foi sem problemas, as outras três vieram sussa. Ai pegamos o busão de volta pra Cusco e jantamos (muito provavelmente no Mac). Essa noite no hostel, dividimos o quarto com um engenheiro músico americano (que ficava escrevendo poesias na cama do lado enquanto eu escrevia anotações das minhas memórias), um australiano (a primeira coisa que ele me perguntou era se eu tinha marijuana) e dois argentinos (é, só cabiam 6 no quarto, mas um deles dormiu num saco de dormir no meio do quarto, o que deixou o Guto puto, que já tava puto deles fumarem lá dentro e claro, deles serem homens). Mais tarde, tomamos mais algumas no barzinho dentro do hostel (que vendia até Brahma), onde vimos um irlandês atear fogo ao próprio peito a troco de bebida de graça (a mesma que ele jogava no peito e acendia) e conversamos com um outro grupo de brasileiros recém chegado no hostel que falava español tão bem quanto eu falo cantonês (´Me serve uma cervessa¿ Buenasso!´). Depois, esperamos a forte chuva que tava caindo diminuir e fomos pras baladas (eh tão bom poder falar isso no plural). Meu irmão, coitado, ficou dormindo nesse dia porque no dia anterior ficou que nem um loco me procurando pelas ruas e eu me separei do Guto logo na primeira balada, onde ele se deu bem com uma mina de Brasília. Eu continuei bebendo de balada em balada, em toda que eu entrava tinha alguém que agente já tinha visto antes em algum momento da viagem, no hostel ou alguém do Brasil que não tínhamos conhecido ainda, era demais poder se sentir popular em uma balada em outro país (outras baladas top: Bullfrog, Mushroom, Inka Team, Roots – onde um dia tinha dois malucos tocando Didjeridoo). Nas ruas sempre tinha algum maluco oferecendo marijuana ou ´coquita´.
No dia seguinte, visitamos uma igreja que foi construída sobre as ruínas de um templo inca e alguns museus, um deles onde tinha uma múmia inca e alguns crânios incas, muito locos, porque são deformados, parecem de alienígenas, são mais compridos na vertical, porque os incas menos favorecidos usavam uns negócios na cabeça pra deformar seus crânios porque seus chefes acreditavam que eles ficavam mais obedientes assim (bão, mais inteligentes eu eles não iam ficar). Tiramos mais alguns milhares de fotos (no total, foram mais de 12,6 GB de fotos e vídeos) e comemos mais alguns Big Macs e Doble Cuartos (lanche que só tem lah, maior que o normal, com duas carnes maiores que o normal e mais queijo). A noite só demos uma passada pelas baladas, sem nem beber direito e voltando cedo porque no dia seguinte começava a trilha inca. Essa foi a única noite que eu não chapei e conseqüentemente não dancei. Uma mina me perguntou em inglês se eu não dançava, eu disse que naquela noite não e ela respondeu ´You only live once´, o que me fez me sentir mal por ter que ir embora cedo e me recordou de algo que eu sempre lembrei os outros, mas as vezes eu mesmo acabo esquecendo, que o dia de hoje nunca mais voltaria, ainda que todos os outros dias eu tivesse curtido ao máximo, bem no que eu não curti, o destino já me lembrou de que eu não iria viver pra sempre.
Eis que chega então o famigerado 22 de janeiro de 2010, data em que começaria nossa peregrinação pela temida trilha inca. Pagamos o hostel (diária de 33 soles por dia, por cabeça) e deixamos o maior peso das mochilas no hostel (na verdade, eu deixei até a mochila, só levei uma minúscula pra trilha pq sabia que não agüentaria muito peso).Pegamos um ônibus até a trilha, que no caminho parou em uma cidadezinha pra comprarmos comidas de ultima hora e cajados. Lá, uma velha índia inca nos pediu esmola, não demos nada e ela nos rogou uma praga em uma língua desconhecida (que com certeza não era español). Na hora, eu falei que ela tinha nos amaldiçoado zoando, mal sabíamos que uma catástrofe ainda estava por vir, talvez por não termos ajudado aquela pobre velhinha. Depois o ônibus seguiu até o início da trilha, onde os guias nos serviram bananas (olha o Guto aprendendo coisas pra usar em Torrinha) e o espertão aqui que tinha ido de shorts, foi vestir uma calça e dar um jeito de colocar o gigantesco saco de dormir alugado preso na pequena mochilinha do Mackenzie. Nosso grupo era formado por dois guias, três porto alegres (os dois do rafting e a Karina, que viajava com eles), dois baianos, um japa, dois franceses (o Emerich, que faz engenharia na Usp e fala português eo Antoine; era pra serem tres, mas um deles já queimou a largada passando mal no caminho no busão), o Fogazza (um cara parecido fisicamente com o Foggy, mas chato pra cacete) e nós três. O primeiro dia transcorreu sem problemas, eu achei até que as três paulistas patricinhas, nojentinhas (como eu) e vegetarianas (que comiam no Burguer King whopper sem carne), que tínhamos conhecido em Copacabana tavam exagerando quando disseram que era insuportável. A trilha do primeiro dia era sossegada, deu pra acompanhar o guia da frente (um ia na frente e outro atrás) junto com o Guto e meu irmão, conhecemos plantas alucinógenas e medicinais, não andamos muito e logo paramos para acampar. O primeiro acampamento era na subida de uma montanha, do lado de um pequeno riozinho. Não tinha energia elétrica, então tivemos que dormir logo depois da janta. Meu irmão perdeu a lanterna dele já bem no primeiro dia, derrubando ela dentro da fossa que tínhamos pra banheiro (´gente, tenho uma boa e um má noticia, a boa é que o banheiro agora tem luz, a ruim é que eu perdi minha lanterna´). Eu nem conheci esse banheiro, pouco antes, perguntei aonde era e disseram lá atrás, eu acabei mijando num curral de ovelhas, tomei um susto porque quando tava mijando uma ovelha soltou um ´Bah!´, que eu achei que era o gaúcho (que falava ´Bah!´pra tudo). O pessoal da trilha servia chá de coca cinco vezes por dia, quando nos acordavam, de novo no café, no almoço, no chá da tarde e na janta. Cabiam só dois por barraca, ai o Guto dividiu uma como Vinicius e eu e o Gui ficamos em outra. Graças a Deus q era com o meu irmão, pq de madrugada, quando dava vontade de mijar, eu só punha o pau pra fora da barraca e mijava, nem tinha que levantar (e pensar que um dia eu já tive timidez urinária...). Ainda bem que todo mundo já tava dormindo pq não devia ser uma visão muito agradável. Depois fiquei sabendo q o Guto e meu irmão também faziam isso, devia ser só barraca com pinto pra todo lado se alguém tivesse vendo...Essa noite foi a que menos entrou água na barraca, eu nem achei tão ruim, mal sabia eu o que o futuro guardava de água pra minha barraca e pra minha vida.
No segundo dia, fomos acordados antes do sol nascer, com os carregadores nos entregando chá de coca na porta de nossas barracas. Os carregadores (´porteadores´) são os peruanos com mais cara de indío mesmo, que só falam keshua (língua inca antiga) e carregam o maior peso (barracas, comida, panelas, cadeiras, mesas) pela trilha. São os burros de carga da trilha. Tomamos café (tinha até leite com chocolate e panquecas), pagamos um porteador pra levar nossas mochilas nesse dia que era só de subida e começamos nossa peregrinação. Ow, vida lazarenta! O segundo dia, mesmo sem mochila, foi tenso! Era só subida, sem brincadeira, uns 12 km, pra subir a mais de 4.000 metros de altura acima do nível do mar (mais do que a altura de que saltamos de para quedas). E os degraus eram gigantescos e estavam molhados porque não parava de chuviscar nunca. Só nessa subida eu fiz uns 5 videozinhos xingando o Guto por ter dado a idéia, meu irmão por sair na frente e não me esperar e eu mesmo por estar ali (ainda tenho que juntar todos em um só pra postar no youtube quando tiver tempo e quando a raiva do Guto pelo vídeo do trem passar). Eu nem acreditei quando finalmente, lá pelo meio dia, depois de umas 5 horas de caminhada na subida chegamos no local a partir de onde só teria descida. Lá o Guto tava semi vivo descansando (vídeo no youtube;orkut) depois de ter tirado a camiseta e torcido, derramando baldes de suor, fazendo uma americana dizer ´Grose!´e se afastar (meu irmão que contou isso, eu ainda devia ta na metade do caminho quando eles chegaram lá em cima). Descansamos um pouco, tomamos água e gatorade, comemos um snack dado pela agência, esperamos todo mundo da turma chegar pra tirarmos uma foto grupal e depois seguimos a descida. Ah, como descer era bom e sossegado! Em pouco tempo, depois de umas pedras escorregadias e vista de cachoeiras, chegamos no segundo acampamento. Tomamos o chá da tarde, jantamos e jogamos baralho com o pessoal da nossa turma e com nosso guia (ensinamos truco e aprendemos a jogar Cabeza de Mierda, um joguinho tipo Uno, só que usando baralho convencional, que todo mundo jogava lá no Peru). Depois fomos dormir, porque tavamos estorados de cansados e a caminhada do terceiro dia não seria tão menos punk que a desse dia.

Um comentário:

Unknown disse...

e seus pais gust???