quarta-feira, janeiro 11, 2017

A velha São Paulo

Quando eu era mais novo, São Paulo costumava ser meu destino de férias em família favorito. 
A diversão começava já na estrada. A gente estacionava no Tavolaro, no Serra Azul, no Frango Assado e ocasionalmente visitava a até a família do meu pai em Limeira. Demorava muito tempo. 300km pareciam 3000, mas valia muito a pena. Tinha coxinha, suco, pão na chapa, sequilhos e banheiro a cada parada. E a banca do Serra Azul já tinha dezenas de opções de quadrinhos que eu nunca encontraria pra comprar nas bancas jauenses.
A família toda dormia no apartamento das minhas tias na Av. Liberdade. Tinha uma loja da Dunkin Donuts ali do lado e um Habib's na frente. Não preciso nem dizer que amo essas maravilhosas rosquinhas até hoje (uma tristeza a rede ter abandonado o Brasil). O Habib's dava aquela liberdade de boteco, onde você se sente o rei porque pode pedir qualquer coisa do cardápio sem medo da conta. 
Antes de chegar na casa delas eu já ficava maluco pra descer do carro e pular dentro de algum sebo. Meu favorito (e continuou sendo durante muito tempo, até infelizmente diminuir imensamente seu acervo) era o Sebo do Messias. Eles tinham centenas de hqs importadas e todo tipo do formatinho (tanto que com muito esforço, eventualmente eu completei minha coleção de X-Men e de Wolverine da Editora Abril muito por conta dessas visitas). Lembro da minha mãe e dos meus irmãos me ajudando a encontrar hqs que eu não tinha no meio de pilhas e pilhas de velharias. Era garimpo de sebo (uma de minhas atividades favoritas até hoje), em família!
A gente visitava alguns shoppings, tirava foto com os enfeites de natal (mais turista impossível), visitava o Pateo do Colégio ou algum outro museu, passeava pelos shoppings japoneses da Liberdade e ia fazer compras (muitas vezes de enfeites que seriam utilizados em aniversários futuros) na 25 de março (sempre parando pra comer pedaços de abaxis na rua). E também lembro vagamente de esperar por horas na fila de um restaurante italiano, do qual ironicamente hoje eu moro a poucos metros de distância mas nunca frequento por conta dos preços ridiculamente abusivos.
Era incrível! Quem precisa de praia quando se tem donuts, hqs e beirute?
Com o tempo, São Paulo se tornou minha cidade e eu aprendi que ela tinha ainda muito mais a oferecer: teatros, shows internacionais, CCBB, hamburguerias gourmet e empregos que eu jamais teria no interior. 
Mas por melhor que essa cidade seja, de vez em quando bate saudade daquela outra SP, aquela que tem cheiro de gibi amarelado pelo tempo e deixa os dedos sujos de açúcar...

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