terça-feira, junho 25, 2013

A rodoviária

Sexta feira eu fui correndo que nem um maluco pra rodoviária, mas ao chegar na porta do ônibus pra Jau fiquei sabendo que aquele horário já estava lotado. Tive então que ficar 2h esperando na rodoviária pela próxima saída. Tentei passar meu cartão de credito na banca, errei a senha 3x e ele foi bloqueado. Não tinha grana nem pra comprar comida. Meu celular pifou e não ligava mais. Tirar o iPod ou o DS do bolso pra jogar algo na rodoviária seria pedir pra ser roubado e ainda gastaria a bateria que eu precisaria guardar pra usar no ônibus. Todas as cadeiras estavam ocupadas. Sentei-me no chão, em um canto, debaixo dos telefones públicos. Liguei o notebook. Como ele tinha sido formatado recentemente, não tinha nada nele pra eu ler ou assistir. Estava sozinho com uma pagina do Word em branco e meus pensamentos. Um emo com lápis nos olhos e franja jogada na cara, vestindo um moletom do Evanescence, se sentou ao meu lado.
- Hey – ele disse.
- Hey – respondi.
- Achei que você ia mesmo pular lá atrás.
- Eu também. Foi por isso que você veio?
- Bom, achei que você ainda podia tentar algo. Não quis perder a viagem.
- Desculpa tomar o seu tempo.
- Tenho tempo pra todos. Por que desistiu?
- Medo de sobreviver. Não seria a primeira vez.
- Você ainda tem a cicatriz? – Ele perguntou passando a mão na lateral da minha cabeça.
- Tenho – respondi afastando a mão dele com um tapa.
- E então, o que te aflige?
- Ah, o de sempre. Cansado de tudo. Principalmente de ser um estorvo pros meus pais, ficar dando gasto pra eles e não ter perspectiva nenhuma de futuro com minha namorada, já que não tenho grana pra nada. Com essa idade eu já pretendia ter feito tanta coisa, ser bem-sucedido, ter minhas coisas.
- Quantos anos você tem mesmo?
- 27.
- Safra boa.
- Pois eh.
- Bom, pelo menos ate agora você já descobriu o que não quer. Mas o que você realmente quer?
- Nada viável, eu acho. Quero ser alguém diferente a cada dia. Ter um trabalho novo a cada manha, amigos novos a cada entardecer e uma festa nova a cada noite.
- Meio difícil
- Será? Será que sou eu mesmo que quero muito? Será que não são os outros que se contentam com muito pouco?
- Talvez.
- Só fico triste às vezes. Mesmo quando esta tudo bem. Ai quando algo vai mal, fico mais revoltado ainda. E sou reconhecido por meus amigos por jogar o tabuleiro pro alto quando o jogo não esta indo conforme eu espero.
- Não seria o primeiro nem o ultimo a fazer isso.
- Eu sei.
- Bom, tem certeza que não quer vir comigo? – ele perguntou fechando o gorro de seu moletom.
- Tenho. Hoje não. Quem sabe outro dia.

- Outro dia então – o emo disse sorrindo, enquanto se levantava e desaparecia no meio da multidão que passava pela rodoviária. 

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