São sete horas da noite do 3o dia mais quente de São Paulo na
historia! Tipo, tão quente do tipo que gera comentários tipo “ta tão quente que
eu ate agradeço quem me trata friamente”. Tão quente que não da pra ficar dentro
de casa.
Então abro uma cerveja, e vou pra varanda, o lugar mais fresco do ape
ler quadrinhos. Mas tipo, não revistas de papel. Ler quadrinhos mesmo. Ficar
observando cada janela de cada prédio como se cada uma fosse um quadro com uma
historinha diferente. Cada quadro com seu personagem.
A vista do meu prédio da pra uma rua, e posso avistar vários prédios comerciais
e familiares. Depois de 15 min, ainda na primeira lata já estou entediado.
Todos os quadros mostram a mesma estória. Ou são trabalhadores fazendo hora
extra, vidrados em seus computadores, convencidos por seus superiores de que
suas tarefas tem alguma importância e caso não sejam terminadas o mundo acaba.
Ou solteiros, casais ou famílias vivendo suas vidinhas medíocres. Assistindo
TV, jantando, dormindo. Eu posso divisar mais de uma centena de vidas e ninguém
esta fazendo nada interessante. Nada. Não tem ninguém tocando um violão,
pintando um quadro, fazendo sexo selvagem, se transformando em borboleta ou
preparando o chão pra um ritual satânico. Por um segundo ateh desejo que alguém
pule de uma das janelas, saltando de seus quadros e se transformando em um borrão
de tinta vermelha no concreto.
Isso me deixa chateado. Principalmente porque me recorda de que eu mesmo
estou preso nos limites de meu próprio quadrinho e tudo que posso fazer eh
assistir e julgar.
Assistir e julgar.
E julgar.
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