segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Soh pq faz mto tempo que nao posto nada de downloads, vae ae uma lista com 1001 discos (que supostamente são aqueles que vc deveria ouvir antes de morrer) pra o6 baixarem os que melhor os aprouverem:
http://nobrasil.org/1001-discos-para-ouvir-antes-de-morrer/
Agora vamos ao que interessa...

Demorou, mas eu finalmente criei coragem pra começar a escrever de verdade sobre a viagem. Vai levar um tempo, já que tenho dezenas de páginas de anotações sobre nossas 720 horas viajando por terra, céu e mar, utilizando todos os meios de transporte possíveis (onibus, trem, barco, avião, helicóptero, bote), passando por dezenas de lugares entre a Bolivia e o Peru, com uma puladinha na fronteira do Chile.

Bom, depois de muito planejamento (por parte do Guto) o mochilão pra Machu Pichu acabou realmente acontecendo. Era pra termos saído de Jau no dia 02, mas as passagens pra Campo Grande estavam esgotadas nessa data (primeiro contratempo), então tudo acabou começando no dia 03 de janeiro de 2010. Arrumei as malas, almocei com a família que ainda teria muita dor de cabeça por minha causa, passei no Ney pro Frodo me fazer um moicano, enchi minha mochila de barrinhas de cereal e la pelas 7 da noite, eu e meu irmão fomos encontrar o Guto na rodoviária de Jaú. O onibus estava atrasado quase uma hora, então só saimos depois das oito. O confortável onibus brasileiro (depois seria mto difícil achar um bom desse jeito e esse nem era dos melhores) nos possibilitou dormir a viagem toda até Campo grande, no dia seguinte, lá pelas 8 da manhã.

Chegando em Campo Grande, já compramos passagens pra Corumbá, um onibus que sairia em poucas horas. Enquanto esperávamos, conhecemos o cuspidor de fogo/malabarista/evangélico/Don Juan Diego que estava viajando sozinho a caminho de evangelizar alguns jovens no chile, mas pretendia passar um tempo na Bolivia no caminho. Ele ia pegar o mesmo onibus que a gente, não sabiamos ainda, mas nosso grupo ja tinha virado um quarteto. Na primeira (e que me lembre, única) parada que o onibus fez a caminho de Corumba, achamos outro mochileiro viajando sozinho, o Daimista Bernardo, que também pretendia dar um role pela bolivia e acabou nos tornando um quinteto, pelo menos pelos primeiros dias da viagem. Chegando em Corumbá, o Diego foi procurar um posto onde tirasse um certificado de que tinha tomado vacina contra febre amarela e eu, o Guto, o Gui e o Bernardo tomamos um onibus até a fronteira com a Bolivia, cidade de Puerto Quijarro. O Bernardo tb não tinha o certificado, mas 20 dólares fizeram os guardas da fronteira fazerem vista grossa. No posto, encontramos um pessoal que confirmou a informação que nao tinhamos gostado de escutar na rodoviária de corumba, de que soh haviam passagens pro trem da morte dois dias depois e nos indicaram um hotel fulera pra nos hospedarmos. Carimbados os passaportes, fomos andando (o que é bem chato com uns 15 kg nas costas!) até a estação de trem comprar as passagens. Era mais longe do que esperávamos, mas uma boa alma boliviana de pick up, nos deu uma carona até a estação, onde reencontramos o Diego – que foi mto mais rápido pq não tentou ir andando... Compramos as passagens pra “melhor” classe do pior trem, mas infelizmente teríamos de dormir duas noites em Puerto Quijarro, uma cidadezinha pequena e tosca, cuja única atração é um Free Shop onde tudo que vale a pena comprar são bebidas (mas estávamos de mochilas, que não são um ótimo local pra carregar garrafas e num país que não sabe o que é gelo). Na primeira noite, bebemos com o pessoal hospedado no Hostel (R$7,50, as duas noites) nossas primeiras paceñas (cerveja de La Paz, provavelmente a mais consumida na Bolivia). No dia seguinte, visitamos o Free Shop, que tinha ar condicionado pra nos salvar do calor infernal que tava fazendo e onde ouvi pela primeira vez Outra Cerveja, uma musiquinha do “AC/DC local” que eu curti mto, comemos feijão pela ultima vez nos restaurantezinho Self-Service careiro e visitamos uma loja de um alemão (puro, como ele mesmo fez questão de dizer) que vendia itens usados por soldados na guerra. Como era o começo da viagem, acabei deixando de comprar mta coisa legal que tinha la pra economizar, ainda era cedo demais pra gastar com gosto. A tardezinha, eu, meu irmão, o Guto e Bernardo saímos procurar um barzinho fuleira pra passar o tempo. Tomamos uma cerveja no que parecia os fundos da ksa de uma perrenga, com direito a galinha passando solta por perto da mesa. Depois o Guto foi embora e nós três achamos um outro bar, mais pro meio da cidade, ainda mais fuleira, porem, mais barato (três latas de cerveja, Colônia, custavam 10 bolivianos, R$2,50). Sentou até um bêbado local pra conversar com a gente. Ele ficou enchendo o saco do meu irmão pra ele ficar com a atendente gorda do bar (“bolivianas são feas, pero las bocetas são buenas”) e tentou nos ensinar espanhol (eu: “como se fala ontem”? ele: ontem? Ontem, martes!, eu: não, eu sei que terça-feira é martes, quero saber como se fala ONTEM! Ele: Ontem? Ontem, martes!). Voltamos pro hotel, onde tomamos mais umas cervejas com o Guto e o Diego, entre conversas profundas sobre o Santo Daime e religião. O banheiro do albergue era compartilhado, mas como nos fundos, onde era o quarto meu e do meu irmão, não tinha mta gente, não tive grandes problemas.
No dia seguinte, o trem saiu meio dia e meio, então eu e meu irmão comemos umas empanadas e uma pratada do self-service. O guto comprou meio kilo de mortadela e comeu sem nem mesmo usar um prato ou uma faca, como um bom troglodita. Chegando no trem, o Guto fez 125874 videos da paisagem, tirou 216489 fotos do trem, do mato, do pessoal e dele na janelinha, e claro, gravou o já consagrado “vídeo mais radical já gravado por um brasileiro no trem da morte”



Já de cara, uns 30 minutos depois que o trem saiu, ele foi invandido pela primeira vez (de muitas) por milhares de crianças vendendo limonada fria (em garrafas velhas de fanta, coca), empanadas (muito barato, 50 centavos) e pollo frito (não deu coragem...). Na parada do trem criamos o “No hay bunda”, frase que descrevia todas as bolivianas que tínhamos visto até agora (e as que veríamos depois só confirmariam o bordão), feito em cima da frase “No hay banda”, cena porraloca do filme malucaço “Cidade dos Sonhos” que tínhamos comentado no dia anterior. O trem da morte era o inferno na terra. Ele era lento, cheio de libélulas do tamanho de cachorros, gente feia, animais domésticos, quente, dava preferência pra todos os outros trens (então, ele não só parava, como dava ré...), tinha crianças berrando “POLLO FRITO” me acordando de madrugada, quando eu finalmente conseguia dormir, passava por uns pântanos onde tinha umas rans que faziam um barulho infernal que pareciam almas de crianças sendo torturadas (q eu apelidei de Poço das Lamentações) e não chegava nunca. Pra ajudar um pouco, o banco do meu irmão nem reclinava. Ainda bem que o bernardo cedeu o dele pro meu irmão e foi dormir no bagageiro.

Eis que então, quase doze horas depois, no dia seguinte, chegamos em Santa Cruz de La Sierra, que fica pra próxima pq não agüento mais digitar...

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