sexta-feira, fevereiro 13, 2015

O bosque do medo

Existem milhares de histórias a respeito de camponeses que moram em cabanas próximas a bosques "mágicos e proibidos", o quais ninguém do povoado jamais se atreve a visitar por que o Medo não deixa. 
Nunca acreditei nisso. Gosto de pensar que no Sr. Medo mando eu. Sempre pensei que se existisse a merda de um bosque proibido perto da minha maldita casa, eu entraria ali sem problema algum, e digo mais, se fosse proibido entraria mais ainda, e mais de uma vez.
Mas eis que chegou o dia no qual me mudei para perto da Praça da República, ficando a apenas algumas centenas de metro do local que talvez seja o mais sujo e punk da cidade de São Paulo.
Nesse dia,  me tornei um indefeso camponês medroso. 
Lógico que já atravessei a praça, mas sempre pela parte iluminada, próxima da polícia e livre de árvores. O coreto, o mini lago e as pontes só vi de longe. Nunca visitei seu lado negro. 
O buraco onde se escondem as criaturas mais horríveis: homens que se vestem de mulheres para enganar outros homens. Bruxos que fornecem meios de separar mentes de corpos. Ladrões, salteadores, craqueiros, andarilhos e assassinos que dormem, se escondem e transam por ali. 
A praça toda fede a mijo e é um espelho do que a humanidade tem de pior a oferecer. O que existe de mais baixo e nojento. Quando possível, evito passar perto até de dia. De noite, não me atreveria a passar por ali nem com os bolsos vazios. E isso é algo que me irrita demais.
Primeiro, porque ver a liberdade de ir e vir de centenas de pessoas de bem limitada por uma dezena de aberrações é uma injustiça do caralho. Em segundo, porque a intenção original provavelmente foi propiciar um local onde as pessoas pudessem compartilhar  momentos de alegria. Ninguém constrói uma porra duma praça pensando "e aqui vão ficar os travecos batedores de smartphone", pelo menos eu acho. Mas não importa como, o lugar que deveria abrigar passeios, crianças e animais, virou antro de malfeitores.
Não é incomum ouvir gritos de "socorro" durante a madrugada. Mas por mais hqs que eu tenha lido na vida, não sou idiota de vestir uma máscara de esqui e tentar salvar a donzela em perigo (provavelmente alguma ex-modelo viciada em crack) de algum dragão (talvez um traveco traficante, ou "travecante"/cafetão).
Um quadrado imenso de verde, escondido no coração da maior selva de pedra do país. Fonte de oxigênio e veneno. Um lugar a ser evitado.Será que a polícia realmente não pode fazer nada?
Particularmente, acho que o que eles tem é medo. 

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