quarta-feira, julho 22, 2020

Minha primeira arma química

Eu vivi um 2o colegial digno de filme de sessão da tarde do SBT. Sempre tinha alguma bizarrice acontecendo, e durante um bom período, lembro que ocorreram as "guerras de giz". Que era basicamente o que se tinha quando só acertar um giz ou um aviãozinho de papel na cabeça dos coleguinhas já não tinha mais graça. Os engenheiros de guerra perceberam que fazer um aviãozinho de papel e carregá-lo com pó de giz era muito mais eficiente. Sujava não só quem sentava no lado do fundão inimigo, mas também deixava o uniforme de um número bem maior de civis colorido. 
Durante semanas, a guerra seguiu dessa forma. 
Comigo e uma galera voltando pra casa com o uniforme cheio de pó de giz.
Até certo dia, em que no meio de uma feroz batalha pela supremacia colegial, meu lado (que salvo engano era o esquerdo) ficou sem giz. 
Nuvens de fumaça colorida acertavam as paredes e as pessoas ao nosso redor e estávamos sem munição.
Até que alguém teve a brilhante ideia de esfarelar vitaminas (aquelas tipo redoxon, que vem num tubinho) e usar dentro de nossos aviõezinhos. 
Quando o inimigo foi atingido pela primeira vez por nossa arma química, lembro do quanto ficaram surpreendidos. 
"Mas que pooooorra é essa?"
Esse é basicamente o mesmo sentimento que o mundo todo vivenciou com a chegada do coronavírus.
Ninguém esperava uma merda desse tamanho.
Estamos acostumados com guerras sendo travadas com armas, bombas e mísseis teleguiados.
Um inimigo invísivel, de origem desconhecida, pegou todo mundo de surpresa.
E mais, sem armas pra combatê-lo, só nos resta ficar em casa. O que basicamente significa que agora somos todos prisioneiros de guerra, dentro de nossos próprios países, em nossas próprias cidades, dentro de nossas próprias casas.
No conforto do lar (pra quem tem o privilégio de morar em um lar confortável).
Incrível como a ficção nunca conseguiu chegar perto disso.O que nos faz perceber também o quanto ela pouco inova e simplesmente se autoreplica.
A guerra evoluiu. E a verdade, como de costume, nós só vamos conhecer daqui a algumas dezenas de anos. Provavelmente por meio de alguma obra de ficção.

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