segunda-feira, maio 12, 2025

A vó

 Nesse dia das mães, me peguei pensando na minha vó e no quanto ela foi uma segunda mãe pra mim. Quando eu era criança, passava tanto tempo na casa dela que meus amigos (o Foggy, que na época a gente ainda chamava de Jão e o Gustinho, que ainda chamava Tiago) tinham até o telefone da casa dela caso precisassem falar comigo. 

A casa dela era minha segunda casa e eu adorava passar meu tempo por lá depois da escola. A casa era enorme, tinha o maior banheiro que já vi na vida até hoje (caso minha memória de criança não esteja me enganando), tinha uma pia no meio da copa (que me faz lembrar de lavar as mãos com frequencia desde sempre) e um quintal gigantesco com uma mesa de pedra no meio (que nunca era usada pra festas, a unica vez me lembro de usa-la foi pra subir enquanto fugia de um cachoro da minha tia). 

Lá o sinal da tv aberta era melhor, então lembro que até pra ver Batman Animated ou Cavaleiros do Zodíaco a casa da minha vó era melhor. E o controle da tv era acoplado na televisão, o que eu achava o ser o ápice da tecnologia. 

Quando chovia, minha vó sempre fazia bolinho de chuva. Então eu até torcia pelo mal tempo.

Também sempre tinha chocolate, mesmo que esse ficasse escondido no armário do quarto dos meus avós, trancado com uma chave de pé de coelho (que eu nunca descobri se era de um coelho de verdade ou não). No quarto também tinha um toca-fitas, mas não lembro dos meus avós ouvindo música. Eles usavam sempre pra colocar uma fita de relaxamento que os ajudava a pegar no sono.

Minhas tias "da capital" também viviam por lá, então eu sempre podia ver um filme em VHS de algo que não era próprio pra minha idade (como Jurassica Park) com minha tia Fátima ou ficar acordado até tarde pra ver Jô Soares com a tia Cristina. 

Além disso, a casa tinha um ar meio mágico. Talvez por conta dos cofres espalhados (sério, cofres de pirata mesmo, com uns 2 metros de comprimento por uns 80cm de altura, dá pra imaginar o que isso faz com a cabeça de uma criança?), talvez por conta do quarto do tio ausente que ficava sempre fechado e era área proibida. Ou então porque a noite as vezes a gente ouvia pessoas pulando no quintal lateral, que tinha uma bananeira enorme, o que me fazia até ter um certo medo de ir ao banheiro durante a noite.

Minha vó gostava de fazer palavras cruzadas, que ela comprava na banca da rodoviária. Lembro que alguns dos meus primeiros gibis foram comprados naquele lugar, não só Cebolinha, Tio Patinhas ou Senninha, mas também meus primeiros gibis em formato americano dos X-Men, daquela mini do Claremont com o Jim Lee (que ano passado consegui autografar na CCXP!).E eu tinha até umas gavetas nos móveis da casa, pra guardar meus gibis e meu esqueleto de tiranossauro que brilhava no escuro. 

A minha vó também estava sempre rezando. E a cada ano que passa, minha mãe fica cada vez mais parecida com minha vó.

Minha vó e meu avô também estavam presentes em cada apresentação de piano, de ballet, natação, flauta, formatura ou o que quer que fosse, minha ou dos meus irmãos. E uma das coisas que mais lembro da gente fazer é subir a rampa do teatro da Fundação, chegando mais cedo que qualquer um, pra guardar lugar na primeira fileira. Não sei como eles aguentavam, as apresentações eram tão chatas que uma vez eu mesmo dormi nos bastidores, antes de me apresentar, enquanto ouvia os outros e esperava minha vez de tocar teclado.

Almoçar na casa dos meus avós no domingo era sagrado. Praticamente uma continuação da missa que minha mãe ainda me obrigava a frequentar. E quase sempre o almoço era alguma massa (rondeli, conchilione ou algo assim). Nos dias bons, uma leitoa ou torta caseira de frango. Mas durante a semana também era bom, porque alem de bife, lá a Clarisse sempre fazia batat frita.

Eu sempre errava/trocava no interruptor as luzes da cozinha e da sala. Até um dia que a Cristina soltou um "Cuzinha! Cuzinha! O cu fica embaixo!". Depois dessa eu nunca mais errei.

A casa da minha avó era uma mansão. Tinha janelas grandes, uma verdadeira floresta ao fundo, com árvores de jabuticaba e se minha memória não estiver me enganando, até umas uvas no caminho pra garagem (durante algum tempo). Tinha uma escadaria na frente, uma sacada de onde meu vô passava boa parte do tempo vendo a cidade e uma bela biblioteca. Não sei qual era a coleção de que fazia parte, mas minhas histórias favoritas estavam em um livro que tinha uns quadrinhos curtos do Condorito, um personagem que só depois fui descobrir que era chileno e foi publicado pela primeira vez em 1949.

Uma vez, em um aniversário que fiz numa edicula (de 18 anos talvez?), minha vó estava conversando com a Maria e chorou ao lembrar da primeira vez que me segurou quando eu nasci. Ela falou com tanto carinho, que nunca me esqueci dessa cena.

Quando ela estava prestes a morrer, minha vó passou vários dias entubada na Santa Casa, com um problema pulmonar. No meio desse período, eu estava assistindo Smallvile uma noite e ligaram do hospital dizendo que ela estava melhor. Fomos pro hospital, só eu e minha mãe. Fazia dias que a gente só via ela entubada. Minha vó abriu um sorriso e comentou do quanto estava feliz por eu ter vindo vê-la. 

Minha vó não tinha melhorado e depois que saímos, foi entubada novamente. Se eu fosse um pouquinho mais religioso, talvez até acreditasse que foi só porque eu rezei pra poder ver ela bem de novo que essa janela de oportunidade acabou aparecendo. Essa foi a última vez que falei com ela.

Hoje a casa da minha vó existe mais, as coisas que tinham lá dentro (inclusive as coleções de livro que eu adorava e a televisão com controle embutido) foram saqueadas por drogados e a construção foi demolida (pra que os drogados finalmente parassem de invadir). O lugar que eu amava virou um pedaço de nada no mundo real, mas continua existindo "exatamente" do jeito que era no terreno da minha memória.

Sempre que minha mãe lembra ou fala sobre a minha vó ela chora. O que é compreensível, já que quando minha vó faleceu, minha mãe perdeu sua melhor amiga.  

Eu geralmente não penso muito sobre minha vó. Tento evitar. Se eu paro pra fazer isso, acabo chorando também.


segunda-feira, março 17, 2025

Baby steps

Esses dias o Rafa começou a andar.

Foi só fazer seu primeiro aniversario de um ano, que do nada, ele que só engatinhava começou a se levantar, cambalear alguns passinhos e de repente ja estava andando. No começo parecia um bebado, equilibrando sua pança e seu cabeção enorme de bebê. Depois com mais certa graça, e precisando cada vez menos de apoio. Essa bundinha magra dele é o melhor airbag que já vi em funcionamento. 

Ele nem chora quando cai. E nunca desiste. Isso é o que o mais admiro. O quanto sem nunca ter lido um livro de autoajuda na vida, sem nem ter noção do que é ser brasileiro, ele não desiste jamais. E a cada pequeno passo, a cada pequena conquista, eu me encho de satisfação. 

Acho que pela primeira vez aprendi o que é ficar feliz de verdade com o sucesso de outra pessoa. Sou tão egoísta que não consigo nem torcer pra um time de futebol. Nunca senti que as vitórias ou derrotas de qualquer time seriam minhas. Mas é só o Rafa aprender a usar um canudo pela primeira vez que meus olhos se enchem de lágrimas. 

Eu amo demais esse moleque. 

Esse sorriso banguela que tem cada vez mais dentes. 

Esse cabelo maluco que forma curvas nas pontas, exatamente o meu de quando eu era bebê. 

O sorriso dele ainda vem do fundo da alma, é totalmente puro e sincero. Tão sincero que pode vir dos motivos mais banais, como eu encher minha barriga de ar e soltar ou simplesmente chegar em casa depois de um dia fora no trabalho. 

Por isso eu também vivo tentando dar pra ele experiências que ele não poderia ter sozinho. Por exemplo, bebes não sabem pular. Então eu pego ele no colo e fico pulando. Ou correndo pelo corredor. Ou engatinho também, pra ver quem engatinha mais depressa. 

E cada gargalhada que ele me dá, é uma vitória. Uma vitória mais minha que dele.

quinta-feira, junho 13, 2024

Skydiving

Talvez as pessoas estranhem porque eu tenho postado tão pouco aqui com algo tão grande quanto a chegada do meu filho ter acontecido recentemente e com isso eu ter tanta coisa nova pra contar. Acontece que é muito difícil pensar em algo pra escrever quando se está em queda livre. A paternidade lembra muito um salto de paraquedas. Começa com a subida do avião...demorada, que te faz pensar em todas as escolhas que te levaram até aquele momento e que parece que nunca vai terminar. Aí vem o parto, quando não tem mais volta e o instrutor praticamente te empurra pra fora do avião. Aquele momento de choque, em que você sabe que algo novo está pra começar. Daí em diante, não tem muita coisa que se possa fazer a não ser aproveitar a adrenalina da queda. Tudo começa a acontecer muito rápido, a paisagem simplesmente passa por você sem que seja possível prestar atenção nela, o medo já foi embora, e a única certeza que você tem é  que está passando por uma experiência incrível e inexplicável, com o vento batendo na cara e um sorriso no rosto, torcendo que pra que esse momento (inevitavelmente passageiro, como todo o resto) nunca termine...

quarta-feira, abril 10, 2024

Rafa-El, o Superbaby!

 A palavra “El” em hebraico é um dos nomes de “Deus”. Muitas vezes é um sufixo em nomes angelicais (como “Gabriel”, que significa “força de Deus”, ou “Michael”, que significa “quem é como Deus”).O nome Rafael tem origem na expressão hebraica «refa`el», que significa «Deus curou».

Mas...pra mim principalmente, claro que o nome tem um significado mais ligado aos quadrinhos.

Em Krypton, o nome de nascimento do Superman é Kal-El, e seu nome significa que ele é Kal da Casa de El. Em kryptoniano, “El” significa “Criança” e “Kal” significa “estrela”. Portanto, o nome Kal-El significa “Filho das Estrelas” ou “Criança das Estrelas”. Dessa forma, Rafa-El, seria a criança Rafa, da "casa" do Superman, nosso querido Superbaby!

sábado, março 16, 2024

É uma pena...

É uma pena mas você não vai se lembrar de tudo que sua mãe passou pra que você estivesse aqui hoje. 

É uma pena mas você não vai se lembrar, de como a pressão dela subiu, de como ela ficou com dores na coluna semelhantes as de uma hérnia e não podia tomar remédios, pois isso podia afetar sua gestação, nem de como as mãos delas doíam tanto que ela mal podia segurar um copo e ainda assim tentou trabalhar até o último instante.

É uma pena mas você não vai se lembrar de tudo que ela estudou, de todos os vídeos que assistiu e médicos que consultou pra que estivesse completamente pronta pra sua chegada.

É uma pena mas você não vai se lembrar do risco que ela tinha de pré-eclâmpsia, colocando a própria vida em risco pra que você pudesse nascer.

É uma pena mas você não vai se lembrar do medo que ela tinha da anestesia, que saía de uma agulha daquelas que parecem saídas de filmes de terror. Nem do quanto ela tentava parecer calma enquanto as médicas abriam a barriga dela cessaria nem do quanto ela ainda tentou parecer plena pras fotos e pra quem estava assistindo, tendo até se maquiado pra estar em sua melhor forma quando você chegasse.

É uma pena mas você não vai se lembrar de como no seu primeiro mês de vida ela passou praticamente cada segundo da vida dela, acordada ou dormindo, preocupada com você. 

É uma pena mas você não vai se lembrar de todas as vezes, a cada 2h ou 3h, que ela acordou no meio da noite, pra te dar o peito, um reforço de suplemento na mamadeira se você continuasse com fome e ainda te deixar uns minutos de pé, pro leite não voltar.

É uma pena mas você não vai se lembrar de como ela dormiu mal durante muitas e muitas noites, privada do sono e da paciência, só pra que você ficasse maior e mais forte a cada dia.

É uma pena mas você não vai se lembrar de como era difícil fazer cocô e ela tinha que te massagear todos os dias pra te ajudar a evacuar e depois ainda te dava banho e trocava suas fraldas, as vezes até no escuro, pra não te acordar.

É uma pena mas você não vai se lembrar do que ela conversava com você de madrugada, enquanto seu sono não chegava, com você no colo e a Luna nos pés (e aqui eu nem vou poder te ajudar, já que na maior parte das vezes ela acordava sozinha, então eu nem sei o que vocês conversavam).

É uma pena mas você não vai se lembrar de todo o carinho e dedicação incondicional que recebeu, e é realmente uma pena que ninguém se lembre. 

Então que esse pequeno texto seja um lembrete, pra que você se lembre de ser grato, e pra que eu também nunca me esqueça.

terça-feira, março 05, 2024

E eis que surge um novo herói na nossa história...

Ninguém envelhece mais. Seja por conta dos avanços na cirurgia plástica ou por cuidados excessivos nas mãos de pais superprotetores, a maior parte dos adultos hoje em dia não passam de mentes adolescentes presas a corpos decrépitos. Provavelmente é culpa do marketing. Nostalgia é a emoção mais fácil de se vender. Dá um quentinho no coração saber que vai haver uma nova temporada daquele que era seu desenho favorito da infância (Xmen 97, que continua de onde a animação de 92 parou estreia agora em março no Disney+) ou poder completar aquela coleção de bonequinhos que você só via na mão do seu vizinho rico (toda a coleção do He-Man vem sendo relançada recentemente, nos mesmos moldes da coleção dos anos 80). Ou seja, se viver no passado, seja jogando Atari ou maratonando os filmes do Stallone no streaming está mais fácil do que nunca,  então quem, em sã consciência, escolheria crescer e virar adulto?

O problema é que um dia a ficha cai (provavelmente junto com o seu cabelo) e você percebe que não vai viver pra sempre. Como diria a Pitty, não deixe nada pra semana que vem, que semana que vem pode nem chegar. Então é melhor não postergar tanto seus planos. Foi com essa consciência (e obviamente, com um empurrãozinho da Amanda, que já era adulta desde que nasceu), que decidimos que era a hora de ter um filho. Li uma vez o Adam Sandler falou pro Chris Pratt que não era pra ele esperar muito pra ter filhos, porque cada dia que ele esperava era um dia a menos que o filho dele teria um pai. Faz sentido, se você esperar até os 50 pra ter um bebê, é provável que não aproveite muita coisa da vida dele.

Enfim, tendo consciência ou não da própria mortalidade, ainda foi muito difícil pra mim começar a pensar em mim mesmo como um adulto (e olha que eu realmente tentei, até gritei Shazam! pra ver se ajudava), então boa parte do tempo eu meio que continuei imaginando que a gente estava passando por uma gravidez na adolescência, o que leva a dúvidas comuns como: "Caramba, espera um pouco aí, um filho é uma dívida parcelada que a gente não vai quitar nunca???"

De qualquer forma, com ou sem ansiedade, pouco antes da gente mudar pra casa nova (mas já com toda papelada encaminhada antes da gente saber da notícia), descobrimos que estávamos grávidos (o que aconteceu lá no mês de julho)!

Não fizemos muito alarde durante a gravidez, porque acompanhamos de perto algumas pessoas que "perderam a entrega no meio do caminho" e vimos o efeito devastador que isso teve nelas e em suas famílias. Escolhemos revelar pra minha família só em agosto, no dia dos pais, quando visitamos meu irmão e a Isa em Campinas. O "chá de revelação" foi só um bolinho pra mim e pra Amanda (ou seja, a confeiteira do iFood foi a primeira pessoa a saber o sexo do bebê) e o "chá de fraldas/chá de beber" fizemos na casa dos meus pais só em dezembro, no finalzinho do ano, pros amigos e parentes mais próxioms. 

E eis que no dia 15/02, logo depois do carnaval, finalmente chegou a esperada data marcada pro Rafinha chegar ao mundo! A cessaria foi marcada pra quando ele chegasse em 37 semanas de gestação, levemente adiantada porque a Amanda desenvolveu pressão alta durante a gravidez (fora as dores nas costas e na mão, o que fazia com que quanto antes ele chegasse, melhor).

O parto foi realizado no no Pro Matre da Paulista, um hospital bem bacaninha que o plano da agência cobria, onde fomos muito bem atendidos e ficamos em um quarto maior que muito Ibis onde já nos hospedamos. Toda hora vinha alguma enfermeira no quarto servir alguma das 5 refeições diárias, entregar remédios ou chegar como a Amanda e o bebê estavam. Não era muito fácil se encontrar pelos corredores, que pareciam mudar de lugar como se a gente estivesse em Hogwarts, mas além do ótimo atendimento, a localização era muito boa, pertinho ali da Paulista com a Brigadeiro, a 100m de um Mcdonalds e do meu "duty free" favorito. 

Era uma quinta feira, e o Rafa chegou ao mundo as 14:47 da tarde. Eu acompanhei a Amanda de dentro da sala de cirurgia, enquanto minha mãe, minha tia Fatima, e meu irmão assistiram a boa parte do procedimento através de uma parede lateral de vidro (que lembra muito aquelas das salas de interrogatórios policiais dos filmes). 

O procedimento todo foi muito rápido. Em poucos minutos as médicas tiraram o bebê de dentro da Amanda e me passaram uma tesoura pra cortar o cordão umbilical (e só pra constar, eu não desmaiei, apesar de essa aparentemente ser uma preocupação geral...quase cortei o cordão no lugar errado, gerando um leve desespero nas médicas? talvez...mas desmaiar, não desmaiei). Falando em cordão umbilical, muito doido pensar que a gente nasce com um fio tipo um carregador na barriga e só depois que cresce vira wireless. 

O Rafa nasceu bem pequenininho (só 49cm) e assustadoramente roxo (por um segundo, meu primeiro pensamento foi que a gente teria que mudar o nome dele pra Thanos), mas logo começou a chorar e a mudar de cor, me fazendo perceber que estava tudo certo com ele. Algumas enfermeiras o pegaram pra limpa-lo, enquanto as médicas costuravam/fechavam a Amanda, tiramos várias fotos com ele ainda com a carinha toda amassada e depois aguardamos o efeito da anestesia passar. Então era isso, ainda em choque com o que tínhamos acabado de fazer, era aqui que começava um novo capítulo da nossa história. Que estreava um novo filme no nosso universo compartilhado, que era lançado um novo volume do nosso romance, que saía uma nova temporada do nosso seriado. E era assim que tinha que ser, afinal toda boa história merece ter continuação! Bem vindo ao multiverso, filhão!

Perto do final da tarde, fomos liberados pra voltar pro quarto, onde encontramos nossa pequena audiência e minha irmã, que havia acabado de se juntar a eles. Compramos flores pra Amanda e celebramos o nascimento com charutos de chocolate. Avós, tias-avós, tios e tias, todo mundo estava super contente com a chegada de um novo membro na família. E no sábado, meu pai chegou, trazendo de Jaú tambem minha tia Cristina e várias amigas da Amanda também foram nos visitar (Carol, Aline, Ana e Simone) e encheram o Rafinha de presentes.

Ficamos no hospital até domingo de manhã, quando recebemos alta depois de completar uma semana aos cuidados do hotel Pro Matre (no domingo, a Amanda já tinha sido internada, porque a pressão havia subido devido a uns estresses desnecessários), mas na quinta meu irmão e a Iza já tinham chegado pra ajudar a cuidar da Luna. Voltamos pra casa, minha família nos visitou mais uma vez antes de voltar pra capital do lanche no pão francês, e então, mais para o final do dia, realmente tinha início nossa saga como pais de primeira viagem.

No hospital, as enfermeiras eram responsáveis por trocar as fraldas e dar os banhos no Rafa. Agora que o trabalho pesado estava realmente pra começar. E a primeira lição a ser aprendida foi "Como pais de um recém-nascido, a esperança é a última que dorme"...

quinta-feira, outubro 19, 2023

O vizinho

 Ontem cheguei em casa por volta das 20h e encontrei um velhinho no elevador. 

— Está chegando do trabalho?  ele perguntou.
— Sim. — respondi. — Bom que hoje em dia é tranquilo, eu só tenho que ir presencialmente dois dias na semana.
— Ah, legal. Eu só trabalho uma vez no ano — Ele complementou, coçando sua longa barba branca, que ia até o peito.
— Isso parece bom — Respondi, tentando esconder o quanto aquele comentário tinha soado peculiar.
Então o velho tirou um celular do bolso e acendeu a tela do aparelho, exibindo a foto que havia em seu fundo de tela. 
Era ele vestido de Papai Noel, com um sorriso no rosto e um cachorro preto no colo.
Chegamos no meu andar e me despedi ainda sorrindo, me esforçando para ser o mais educado possível. Afinal, eu precisava mostrar que era um bom garoto.