Ninguém envelhece mais. Seja por conta dos avanços na cirurgia plástica ou por cuidados excessivos nas mãos de pais superprotetores, a maior parte dos adultos hoje em dia não passam de mentes adolescentes presas a corpos decrépitos. Provavelmente é culpa do marketing. Nostalgia é a emoção mais fácil de se vender. Dá um quentinho no coração saber que vai haver uma nova temporada daquele que era seu desenho favorito da infância (Xmen 97, que continua de onde a animação de 92 parou estreia agora em março no Disney+) ou poder completar aquela coleção de bonequinhos que você só via na mão do seu vizinho rico (toda a coleção do He-Man vem sendo relançada recentemente, nos mesmos moldes da coleção dos anos 80). Ou seja, se viver no passado, seja jogando Atari ou maratonando os filmes do Stallone no streaming está mais fácil do que nunca, então quem, em sã consciência, escolheria crescer e virar adulto?
O problema é que um dia a ficha cai (provavelmente junto com o seu cabelo) e você percebe que não vai viver pra sempre. Como diria a Pitty, não deixe nada pra semana que vem, que semana que vem pode nem chegar. Então é melhor não postergar tanto seus planos. Foi com essa consciência (e obviamente, com um empurrãozinho da Amanda, que já era adulta desde que nasceu), que decidimos que era a hora de ter um filho. Li uma vez o Adam Sandler falou pro Chris Pratt que não era pra ele esperar muito pra ter filhos, porque cada dia que ele esperava era um dia a menos que o filho dele teria um pai. Faz sentido, se você esperar até os 50 pra ter um bebê, é provável que não aproveite muita coisa da vida dele.
Enfim, tendo consciência ou não da própria mortalidade, ainda foi muito difícil pra mim começar a pensar em mim mesmo como um adulto (e olha que eu realmente tentei, até gritei Shazam! pra ver se ajudava), então boa parte do tempo eu meio que continuei imaginando que a gente estava passando por uma gravidez na adolescência, o que leva a dúvidas comuns como: "Caramba, espera um pouco aí, um filho é uma dívida parcelada que a gente não vai quitar nunca???"
De qualquer forma, com ou sem ansiedade, pouco antes da gente mudar pra casa nova (mas já com toda papelada encaminhada antes da gente saber da notícia), descobrimos que estávamos grávidos (o que aconteceu lá no mês de julho)!
Não fizemos muito alarde durante a gravidez, porque acompanhamos de perto algumas pessoas que "perderam a entrega no meio do caminho" e vimos o efeito devastador que isso teve nelas e em suas famílias. Escolhemos revelar pra minha família só em agosto, no dia dos pais, quando visitamos meu irmão e a Isa em Campinas. O "chá de revelação" foi só um bolinho pra mim e pra Amanda (ou seja, a confeiteira do iFood foi a primeira pessoa a saber o sexo do bebê) e o "chá de fraldas/chá de beber" fizemos na casa dos meus pais só em dezembro, no finalzinho do ano, pros amigos e parentes mais próxioms.
E eis que no dia 15/02, logo depois do carnaval, finalmente chegou a esperada data marcada pro Rafinha chegar ao mundo! A cessaria foi marcada pra quando ele chegasse em 37 semanas de gestação, levemente adiantada porque a Amanda desenvolveu pressão alta durante a gravidez (fora as dores nas costas e na mão, o que fazia com que quanto antes ele chegasse, melhor).
O parto foi realizado no no Pro Matre da Paulista, um hospital bem bacaninha que o plano da agência cobria, onde fomos muito bem atendidos e ficamos em um quarto maior que muito Ibis onde já nos hospedamos. Toda hora vinha alguma enfermeira no quarto servir alguma das 5 refeições diárias, entregar remédios ou chegar como a Amanda e o bebê estavam. Não era muito fácil se encontrar pelos corredores, que pareciam mudar de lugar como se a gente estivesse em Hogwarts, mas além do ótimo atendimento, a localização era muito boa, pertinho ali da Paulista com a Brigadeiro, a 100m de um Mcdonalds e do meu "duty free" favorito.
Era uma quinta feira, e o Rafa chegou ao mundo as 14:47 da tarde. Eu acompanhei a Amanda de dentro da sala de cirurgia, enquanto minha mãe, minha tia Fatima, e meu irmão assistiram a boa parte do procedimento através de uma parede lateral de vidro (que lembra muito aquelas das salas de interrogatórios policiais dos filmes).
O procedimento todo foi muito rápido. Em poucos minutos as médicas tiraram o bebê de dentro da Amanda e me passaram uma tesoura pra cortar o cordão umbilical (e só pra constar, eu não desmaiei, apesar de essa aparentemente ser uma preocupação geral...quase cortei o cordão no lugar errado, gerando um leve desespero nas médicas? talvez...mas desmaiar, não desmaiei). Falando em cordão umbilical, muito doido pensar que a gente nasce com um fio tipo um carregador na barriga e só depois que cresce vira wireless.
O Rafa nasceu bem pequenininho (só 49cm) e assustadoramente roxo (por um segundo, meu primeiro pensamento foi que a gente teria que mudar o nome dele pra Thanos), mas logo começou a chorar e a mudar de cor, me fazendo perceber que estava tudo certo com ele. Algumas enfermeiras o pegaram pra limpa-lo, enquanto as médicas costuravam/fechavam a Amanda, tiramos várias fotos com ele ainda com a carinha toda amassada e depois aguardamos o efeito da anestesia passar. Então era isso, ainda em choque com o que tínhamos acabado de fazer, era aqui que começava um novo capítulo da nossa história. Que estreava um novo filme no nosso universo compartilhado, que era lançado um novo volume do nosso romance, que saía uma nova temporada do nosso seriado. E era assim que tinha que ser, afinal toda boa história merece ter continuação! Bem vindo ao multiverso, filhão!
Perto do final da tarde, fomos liberados pra voltar pro quarto, onde encontramos nossa pequena audiência e minha irmã, que havia acabado de se juntar a eles. Compramos flores pra Amanda e celebramos o nascimento com charutos de chocolate. Avós, tias-avós, tios e tias, todo mundo estava super contente com a chegada de um novo membro na família. E no sábado, meu pai chegou, trazendo de Jaú tambem minha tia Cristina e várias amigas da Amanda também foram nos visitar (Carol, Aline, Ana e Simone) e encheram o Rafinha de presentes.
Ficamos no hospital até domingo de manhã, quando recebemos alta depois de completar uma semana aos cuidados do hotel Pro Matre (no domingo, a Amanda já tinha sido internada, porque a pressão havia subido devido a uns estresses desnecessários), mas na quinta meu irmão e a Iza já tinham chegado pra ajudar a cuidar da Luna. Voltamos pra casa, minha família nos visitou mais uma vez antes de voltar pra capital do lanche no pão francês, e então, mais para o final do dia, realmente tinha início nossa saga como pais de primeira viagem.
No hospital, as enfermeiras eram responsáveis por trocar as fraldas e dar os banhos no Rafa. Agora que o trabalho pesado estava realmente pra começar. E a primeira lição a ser aprendida foi "Como pais de um recém-nascido, a esperança é a última que dorme"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário