segunda-feira, maio 29, 2017

A nata

No meio da semana, fui com a Manda conferir a pre-estreia do filme Mulher-Maravilha, na minha opinião, o primeiro filme realmente bom do Universo DC no cinema há bastante tempo. Tem uma história boa e autocontida, fiel aos quadrinhos e o filme não perde o ritmo em momento algum. O casting tá foda, não tem nenhum personagem descaracterizado, o uniforme dela ficou incrível e as cenas de batalha nem se fala. Foi a primeira exibição no Brasil, dez dias antes da estreia oficial, numa tela extreme curva sensacional do cinemark, ganhamos posters e tiaras do filme e antes da sessão rolaram até algumas comidinhas e biritas na faixa. 
No sábado, voltamos de manhã com minha irmã pra Jau, onde meus pais nos esperavam pro almoço (e aniversário da minha tia) com uma travessa gigantesca de bifes a parmegiana, cervejas e bolachinhas de nata (especiaria familiar que se tornou raridade culinária pelo simples fato de que ninguém mais tem nata no mundo). Entreguei alguns presentes atrasados de dia das mães, depois percebi que o correio tinha entregue algo que eu estava esperando chegar dos EUA há algum tempo: um ATARI! "Ah, mas qual é graça de jogar um videogame dos anos 70, se você pode jogar um de última geração?" Bom, basicamente é a mesma de se assistir a um filme clássico em preto e branco ou ler as primeiras edições de Superman. É incrível ver como tudo começou, analisar as evoluções e o peso que cada revolução trouxe. Pra mim, também é legal porque esse é um dos poucos videogames com os quais eu praticamente não tive contato nenhum. Então cada um dos 101 jogos que vem nele é uma nova descoberta. Nem tive tempo de testar todos ainda, mas é fácil entender porque Frogger, Yar´s Revenge ou Space Invaders, por exemplo, se tornaram clássicos. Por mais simples que sejam, são incrivelmente viciantes. E poder jogar com réplicas dos controles originais cria uma experiência muito superior a de emular o jogo no computador.
A noite, jantei e tomei sorvete (macadâmia S2) com meus pais e minha tia, depois saí buscar a Manda pra encontrar o Sustinho no Zoom, novo bar construído no antigo salão de festas onde comemoramos as bodas de ouro de meus avós. Só não sei o bar vai durar muito, estava bem vazio.
No domingo de manhã, assisti um filminho de roubo com meu pai na Netflix, tomei uma cerveja com queijo e azeitona com ele, minha mãe e minha tia, e quando a Very e o Vyc acordaram fomos almojantar no Polaco (onde vamos religiosamente quando ele vem, minha irmã parece não querer que ele conheça nenhum outro restaurante jauense). 
Voltando pra Jau, tomamos café e criei uma sobremesa suprema: bolacha de nata com sorvete de nutela, depois fui buscar a Manda e voltamos pra SP enquanto meus pais levavam minha tia pro aeroporto. Foi um fds bem corrido, mas valeu cada segundo e, como voltamos cedo, consegui até jogar diversas partidas de Gwent (trailer do jogo abaixo) antes de dormir. :)



segunda-feira, maio 22, 2017

Virinha gastronômico


Quinta-feira, voltei com a Manda ao teatro Renault pra mais uma sessão de Les Miserables, dessa vez pra assistir ao espetáculo bem mais de perto, cortesia de uns ingressos ganhos do cliente. Deu pra ouvir bem melhor (até porque o protagonista dessa vez não era interpretado por um extrangeiro) e por mais que seja uma peça longa (de quase 3h), achei que na segunda vez passou até mais rápido do que na primeira. Na sexta, aproveitei a promoção de bolinhos de bacalhau por um reale no Habib´s pra jantar uma porçãozinha deles acompanhada de cerveja em casa e ficamos de boa só assistindo ao documentário Laerte-se na Netflix. 
Sábado li muitas hqs e saí pra almoçar com a Manda no Shopping Light, onde provei o excelente hamburger da Red Nose e paramos pra um cafézinho com bolo no Benjamin. A tarde, fui conhecer o novo ape do Raff, onde ele estava testando sua churrasqueira de pedra (que realmente funciona muito bem) e seu novo Switch, novo videogame da Nintendo que tem uns jogos bem bizarros como fazer a barba, tirar leite de vaca ou jogar pingue pongue sem ver a bolinha e o novo Zelda, mas cuja diversão ficou mesmo por conta de Mario Kart.
Chegando em casa, fui com a Manda dar uma volta no centro, pra buscarmos um lanchinho na Casa do Porco, procurar por pavês e ver passar o trem eletrico d´Adriana sem a rapaziada.
No domingo, comecei a jogar Dragon Age Inquisition (e sem querer montei um personagem que é a cara do Link), um RPG bem legal também faz parte da EA Access e lembra bastante Withcer 3.  No almoço, voltamos pra Casa do Porco e compramos quase tudo que eles tinham pra virada: leitoa San Zé, lanche de porco e porcopoca (pururuca sequinha com canela), um almojanta excelente e sem fila, desse famoso restaurante que fica a poucos metros do apê, mas que ainda não tínhamos provado. Aproveitamos também pra pegar uns bolinhos na República e uma Ipazinha na feira de cervejas que tava rolando na praça Dom Gaspar. A tarde, a chuva acabou com o musical que eu pretendia assistir (frio e gente com guarda-chuva aberto na minha frente me fizeram desistir de meus planos e voltar pra casa), então acabei ficando só mesmo com meus quadrinhos e com o excelente filme Corra!, um filme de terror genial, que realmente vale a pena se assistir.

segunda-feira, maio 15, 2017

Velhos conhecidos

Nesse final de semana, apesar de meus pais estarem viajando pra ver aquele-que-não-retorna, voltei com a Manda pra Jaú pra resolver algumas coisas do grande dia. E pra não perder a viagem, aproveitei pra rever alguns amigos que não via fazia tempo.No almoço, fui com a Manda conhecer o novo Ponto da Chuleta, que abriu na avenida da casa da vó dela. Um lugar que serve uma carne realmente muito boa (com várias entradinhas e acompanhamentos show) e tem um preço bem justo. A tarde, tirei um cochilo e assisti um pouco de TV. As 20h da noite, fomos pra Bauru (finalmente) visitar a nova casa do Frodo. Por sorte, o Sustinho se prontificou a ir com o carro dele e dirigindo porque tinha bebido demais na sexta, assim eu não precisei me preocupar e pude beber livremente. Chegamos lá umas 21h, comemos muito bem (diferente dos nossos churrascos colegiais, agora os eventos realmente tem carne, linguiça, queijo coalho e pão de alho), tomamos muita cerveja, fizemos alguns virinhas e rimos um pouco do novo hobbie de nosso anfitrião: narguile eletrônico
Aparentemente, o fumo se uniu a tecnologia, e agora existem máquinas de fumaça que fazem menos mal que cigarro e podem enviar descargas imensas de fumaça no seu pulmão e é possível escolher até mesmo quantos wattz de descarga você quer receber. E já existem até campeonatos de quem aguenta mais fumaça ou de quem faz formatos diferentes com ela. Assim, depois de me empanturrar de comida, ouvir muito Rocksugar e apresentar pro pessoal a palavra de Skylab, voltamos pra Jau (o Sustinho dirigindo, eu dormindo como um bebê).
No domingo, tentei voltar com a Manda e a vó dela pro Ponto da Chuleta, mas tinha uma fila de espera enorme e acabamos indo parar no Pizzaiolo, onde mais uma vez comemos churrasco (e muita sobremesa grátis!=b). A tarde, o Wella e o Guto levaram em casa cervejas e amendoins pra gente colocar o papo em dia, discutir política, bullying, aviação e o os códigos de vestimentam em vigor em Mineiros do Tietê. Foi corrido porque nossa carona de volta pra SP saía cedo, mas bastante divertido (e de quebra, ganhei até uma carona do Wella até o Tiger). Sempre bom rever o maior número de Rippers possível, ainda que seja cada vez mais difícil juntar todos eles em um único lugar, em uma única cidade e em um único horário.¯\_(ツ)_/¯

quarta-feira, maio 10, 2017

Conexões Brasil x Itália

Esses dias acabei me aprofundando um pouco  na "Operação Mãos Limpas" que aconteceu na Itália nos anos 90. Ela tem semelhanças com a Lava-jato em diversos pontos e bom, pra não perder a piada com toque italiano, infelizmente acabou em pizza.

Um breve panorama do que rolou por lá e suas semelhanças com nosso atual cenário político:

1- Até antes dos anos 90, os políticos italianos não podiam ser investigados sem prévia autorização do congresso. No Brasil, políticos não podiam ser investigados sem autorização do congresso até meados de 2010. 

2- Um belo dia pegaram um peão italiano que tava extorquindo o pessoal de um asilo. Ele acabou abrindo o bico, num esquema de delação premiada e o  pessoal viu que todo o Congresso italiano estava sujo. No Brasil, Marcelo Odebrecht foi preso e começou a delatar geral.

3- Houveram diversas tentativas de limitar a atuação do judiciário na Italia. Em uma delas, como não tinha nenhum partido comunista nas investigações, acusaram os juízes de serem comunistas. Do mesmo jeito que por aqui acusam o Moro de não investigar o PSDB.

4- Enquanto isso, os parlamentares italianos começavam a tentar passar diversas leis pra se blindarem. Uma delas passou num dia de jogo de copa do mundo. Ela negava a hipótese de prisão preventiva em "crimes de colarinho branco" e acabou soltando mais de 2 mil felas di putta. No Brasil, os parlamentares articulam, por exemplo, trazer de volta essa proposta: a limitação para seis meses do período de investigação de crimes praticados por políticos com mandatos eletivos. Como uma investigação dessas dura muuuito tempo, seria o mesmo que absolver todo mundo.

5- Como consequência, os italianos perderam a fé nos políticos e elegeram um gestor (dono de canal de televisão e time de futebol) como seu novo salvador. Assim que esse cara entrou no poder, aprovou leis que favoreceram pra caralho a corrupção, como por exemplo, uma que limitou a prescrição desse tipo de crime para sete anos. Dessa forma, ele próprio (que já tinha aparecido em alguns esquemas) e milhares de outros caras corruptos puderam voltar a curtir a bandidagem livremente, já que nenhuma investigação desse porte dura tão pouco. Alguma dúvida de que isso pode acontecer muito em breve por aqui?

Bom, esse é só um resumo (bem tosco, por sinal) de tudo que rolou. Teve muito mais coisa, inclusive uma incrivelmente suspeita onda de suicídios entre os diretores de uma petrolífera envolvida nos esquemas. 

Se quiser saber mais sobre o caso, o incrível podcast que me inspirou a fazer esse post foi esse aqui: http://anticast.com.br/2017/04/salvomelhorjuizo/smj-45-operacao-maos-limpas/. Recomendo demais pra quem tiver um tempinho. ;)

Ursinhos de nozes

Esse final de semana o frio, o regime e a falta de ingressos pra peça do Luchetti que eu pretendia ver no sábado conspiraram pra que meu final de semana fosse bem mais parado do que eu gostaria. Eu e a Manda passamos a sexta e o sábado em casa, só saindo no sábado de manhã pra fazer umas compras e almoçar no Shopping Light (que está cada vez melhor, agora que tem até uma padaria Benjamin, uma livraria e um novo restaurante mexicano - o Rints Burritos, onde eu fiz questão de almoçar). O bom foi que deu pra descansar bastante, terminar todos os episódios da serie animada de Star Trek, zerar o primeiro SW: Force Unleashead e ler muitas hqs (com destaque pra clássica Patrulha do Destino, do Grant Morrison). 
No domingo a tarde, fomos no chá de bebê de nossa futura afilhada. E a festa tava muito caprichada. Tinha todo tipo de salgadinho, canapés, amendoins, hot dogs, lanches de carne louca, maioneses, cupcakes de red velvet, camafeu em formato de ursinho e alguém sempre mantinha uma lata de cerveja gelada na minha mão. E não é que festas infantis (ainda que a criança nem tenha nascido ainda), podem ser divertidas? :)

quarta-feira, maio 03, 2017

#HomemAranhaNoBrasil

Eu mal tive tempo de me recuperar da viagem pra São Sumé e já tinha evento épico rolando em São Paulo. Mais especificamente o Spiderman Fan Fest que a Sony e a Marvel organizaram lá no Auditório do Ibirapuera. Assim, saí do trabalho e já peguei um táxi direto pro parque. Peguei uma filinha básica, mas pouco antes das 20h já estava pegando minha credencial e meus brindes do filme Homem-Aranha: De volta ao lar (dois batecos infláveis, um pôster, uma máscara e uma sacola de pano), cortando a manada de fila da rampa e correndo procurar um lugar. Como eu estava sozinho, dei sorte e encontrei uma cadeira extremamente próxima do palco (a uns 10m, mais ou menos). Começou com o pessoal do Omelete falando um pouco sobre a trajetória do heroi e a expectativa pro filme novo, passando pro trailer, um mini concurso e cosplays (tinha até um cara vestido de Fantástico Homem-Saco) e de repente entraram uns malucos com metralhadoras de brinquedo e máscaras do Capitão, do Homem de Ferro e do Hulk (igual os bandidos que o Aranha enfrenta no trailer) dando tiros pro alto e fingindo tomar o auditório. E pouco depois, sob muita gritaria, chegaram o Tom Holland (Peter Parker) e a Laura Harrier (Liz Allen) pra uma entrevista na qual eles contaram como foi conseguir o papel, conhecer os Vingadores (eles são quase crianças hoje então quando o primeiro Homem de Ferro saiu o Tom tinha 12 anos) e contar causos das filmagens. O moleque é muito gente boa e faz piadinhas a todo momento (exatamente como o verdadeiro Parker faria). Ele contou por exemplo que tinham levado eles no restaurante Dom e que tinha comido formigas e achado interessante a culinária local. O entrevistador contou pra ele que não comemos formigas por aqui (essa é só uma frescura desse restaurante, que você pode conferir no episódio dedicado a ele na série Chef´s Table da Netflix). E o Tom meio que soltou (com outras palavras) um "Então porque me fizeram comer?". Foi sensacional poder participar de um evento desses (que não costuma acontecer com frequencia no Brasil muito menos aberto pro público), então sou eternamente grato a todos os envolvidos por poder conhecer de perto o próximo intérprete daquele que provavelmente é meu herói favorito. Vai teia!




São Tomé das Letras

Sexta-feira teve greve geral em São Paulo. Os ônibus e metrôs não funcionaram, então fiquei em casa trabalhando home office e a Manda não teve pacientes pra atender porque o consultório não abriu. Assim, depois de um belo dia de descanso, pegamos um táxi (nenhum uber estava disponível) até a casa do Kev ondem íamos encontrar a galera para aquela que seria a viagem mais roots de nossas vidas.Fomos em 2 carros: Ana, Raff, eu e Manda em um e Kev, Fabi e Henry no outro e em cerca de 4h, depois de uma viagem tranquila pela Fernão Dias, tendo apenas plantações de breu ao redor, chegamos cerca de meia-noite na pedregosa cidade de São Tomé das Letras.

Tínhamos combinado de ficar hospedados num hostel de um amigo do Raff, que tinha largado a vida na cidade pra virar rockstar em Santomé. Acontece que quando chegamos lá o responsável pelo lugar supostamente estava "na roça buscando lençóis pra gente". Quem passou essa informação foi um hippie maluco que tinha um terceiro olho tatuado na testa (que sonhava com o calor da Islândia, que segundo ele era mais quente que Santomé) e uma maluca de narriz partido ao meio que estavam vendo tv quando chegamos. Esperamos um pouco o suposto "responsável" chegar (mas essa palavra está longe de se aplicar a ele), mas depois de um tempão esperando acabamos só deixando mesmo nossas coisas em qualquer quarto e indo pro "roque", um local cheio de barzinhos com música ao vivo cercado de pedras, cães e malucos, onde a banda desse cara que indicou o hostel estava tocando. Compramos cervejas baratas (2 reais a long neck de Itaipava), comemos uma pizza, brincamos com os cães e exatamente as 4h20 de manhã chegamos no nosso moquifo (sério, parecia que tinham assassinado o Homem Arco-ìris no local) pra dormir, tão vencidos pelo cansaço que nem banho tomamos.

Sábado acordamos lá pelas 9h e fomos tomar café numa padoca na frente do hostel, onde pude pagar café e pão de queijo pra todo mundo gastando míseros 14 reais (sério, era um pacote gigante de pão de queijo,que sobrou até pra madruga). Depois demos uma volta pela cidade, começando pela gruta onde um branco ajudou escravos (ou índios, dependendo da lenda) que a apropriação cultural do passado transformou de Sumé em São Tomé. Depois fomos até a igreja de pedra e a famosa pirâmide, uma casa de pedra cercada por torres de pedra que supostamente fazem seu pedido acontecer assim que são derrubadas por outro turista. E o legal foi que enquanto estávamos dando um tempo ali nas pedras chegou do  nada um maluco descalço (ótimo lugar pra andar assim) tocando uma flauta e criando todo um climão élfico de Terra-Média. Esse foi o primeiro momento de magia mística do passeio.

Depois pegamos os carros e subimos até a Ladeira do Amendoim, onde é possível desligar o motor do carro, deixá-lo no ponto morto e vê-lo subir o morro sozinho. Sério mesmo, também não acreditei antes de ver pessoalmente, mas de alguma forma, isso acontece. Segundo a lenda, porque o magnetismo da Terra neste ponto é muito forte e dizem que ali é ponto de energia de um dos chakras do planeta. Ali do lado também fica a entrada pra uma gruta de 15km onde falam que está localizado um portal que leva até Machu Picchu (infelizmente, como muita gente sumiu tentando a façanha, o local está fechado atualmente). 

Demos mais uma volta pelo centro pra tomar café e comer bolinha de queijo e vimos o Ventania passando de boas pelo centro, tomamos choconhaque, compramos pingas e licores de diversos sabores e encontramos o amigo do Raff pra jantar umas pizzas. Esse cara chegou acompanhado da namorada e do...bom, do meu irmão. O cara não era só idêntico fisicamente ao meu irmão. Ele falava como ele, ria como ele, tinha os mesmos trejeitos e também tinha abandonado a vida em SP pra morar em Minas. Ele sentou bem na minha frente, me deixou em choque e passei a maior parte da janta escrevendo na cabeça o esboço de um novo conto sobre o reencontro dois irmãos que tinham deixado de se falar há muito tempo. Como eu e a Manda tínhamos deixados os celulares no hostel, tive até que arrumar um emprestado pra tirar (o que pra mim pareceu ser) discretamente uma foto do cara, porque sabia que só contando ninguém ia acreditar na semelhança. Pra se ter uma noção, mandei a foto pra minha mãe e pra minha irmã e nenhuma delas duvidou de que realmente era meu irmão. Esse foi o segundo grande momento mágico místico da viagem.

Voltamos pro nosso quarto no hostel (um novo quarto, na verdade, pro qual nos mudamos ainda sem ver o dono do lugar, que era levemente melhor e maior que o primeiro e onde pelo menos dava pra usar o banheiro - no primeiro, a tampa da privada ficava literalmente embaixo da pia, dificultando muito os trabalhos). Na verdade, o hostel era tão zuado que não fornecia nem papel (e sem o dono por ali, não tinha nem pra quem pedir) então tive que sair procurar por uma loja que vendesse. Não encontrei nenhuma, mas um bondoso vendendor de bolsas local acabou me vendendo o próprio rolo que ele tinha no banheiro dele por uma moeda de um real. Lá pela meia noite, a Manda e a Ana dormiram e eu e os demais sobreviventes saímos dar mais um rolet. Paramos num lugar pra tomar caldo de mandioca, e depois sentamos no barzinho da esquina do hostel (que ficava numa rua onde tinha um boneco do mestre dos magos do outro lado da calçada!) pra tomar umas cervejas num lugar chamado BroadUAI (e olha que se ninguém me falasse eu jamais ia entender essa piada), onde o Henry começaria a perseguir a estalajadeira.

No domingo tomamos café num lugarzinho acochegante de uma senhorinha do sul que fazia um ótimo chocolate quente e servia um bolo de nozes recheado com maçã e creme de pastel de belém. Depois pegamos os carros e fomos até a Gruta do Sobradinho. O lugar não era muito grande, mas eu que nunca tinha entrado numa gruta antes achei bem divertido. Era obrigatório usar capacete com lanterna na cabeça, tinha paredes altas, água gelada, pedras pra pular, cocô de morcego nas paredes e uma cachoeira no final. Um ótimo lugar pra um Bruce Wayne construir sua batcaverna. 
Na noite anterior, todos os casais tinham revelado os apelidos carinhosos secretos que cada um tinha dado pro seu parceiro, menos eu e a Manda. Então, só pra zuar com eles escrevemos em uma das pedras do lago que ficava ao redor da cachoeira qual era nosso apelido e só contamos isso depois que havíamos subido a montanha. Nunca pensamos que alguém seria maluco o suficiente pra descer tudo de novo só pra ver qual era o apelido. Mas é claro que o Kev tinha que ser maluco o suficiente não só pra descer, como também pra achar, tirar foto da pedra e daí em diante só me chamar desse jeito. 
Na saída da cachoeira, tinha um barzinho e uma lojinha de churrasqueiras de pedra (trouxemos uma pra ver se funciona). Lá na frente da loja, o Raff conseguiu a façanha de escorregar e derrubar cerveja na própria cara. Culpa do magnetismo da Terra, provavelmente =b.
Fizemos um piquenique por ali mesmo, com alguns lanches comprados mais cedo no mercado, bolachas e bebidas quentes. Depois, fomos pra Lagoa da Esmeralda, um lugar lindo cercado de casinhas de pedra que provavelmente seria um melhor lugar pra se mergulhar do que a própria cachoeira se tivéssemos chegado mais cedo e não estivéssemos morrendo de frio.
Na volta da lagoa, nosso carro ficou um pouco pra trás e quando chegamos no carro do Henry vimos o Kev correndo de meias, no meio da estrada, com um pedaço de árvore na mão que ele ia levar pra casa pra fazer incenso. Coisa normal que acontece sempre em São Paulo, cotidiana mesmo.

Passamos no hostel pra tomar um banho, jantamos no Bigods um xbacon maroto, alimentamos uns dogs, compramos algumas lembrancinhas e voltamos pra Ladeira do Amendoim pra ver as estrelas. E manooo do céu, que vista linda. O problema é que 7 turistas trouxas sozinhos em um lugar completamente afastado não é a melhor ideia do mundo. Muito menos se no caminho a Manda fizer o favor de ficar desenterrando histórias de assaltos de Jau ou notícias de que teve gente baleada em St Tomé na semana anterior. O silêncio dava um puta climão de filme de terror, então ficamos lá bem menos do que gostaríamos, afinal qualquer luzinha que aparecia no horizonte era um assaltante em potencial (novo conto de terror sobre grupo de amigos que se refugia de bandidos no caminho que leva até Machu Picchu em breve) e logo voltamos pro centro da cidade.
Paramos, agora com a turma toda, na BroadUAI.
Quando chegamos dois caras muito bons estavam tocando música ao vivo, mas eles tiveram que sair pouco depois porque iam abrir um show do Ventania que ia acontecer em outro local da cidade (pro qual eu queria ir, mas fui voto vencido porque o pessoal achou que a entrada custar 30 reais era caro demais). Aí duas meninas (que depois descobrimos serem esposas dos dois primeiros caras) assumiram o violão e bom, dizer que elas eram ruins seria elogio. Elas tocavam tão mal, errando e desafinando a toda hora, que em pouco tempo, cerca de umas duas músicas, o bar que antes estava lotado (a ponto de que cada casal da nossa mesa estava sendo forçado a dividir um banco de pedra), esvaziou. Uma a uma todas as pessoas foram embora, e ninguém se atrevia a entrar. Era impossível de não perceber o motivo e percebendo a tristeza na cara das minas fizemos a coisa menos sensata possível: aplaudimos. Vibramos cada vez que uma música da MPB era enforcada nas cordas de seus violões e começamos a cantar junto mais alto que elas pra que pelo menos as letras mantessem o ritmo e a concordância. Elas agradeceram e mandaram vários "caralho, vocês são foda", coisa que qualquer rockstar fala, mas que dificilmente é de coração, mas que dessa vez não restava dúvidas de que era. Logo o show se transformou num acústico, elas desligaram as caixas de som e sentaram ao lado da mesa maior pra qual havíamos nos mudado. Desenrolamos a situação.

Como o Raff fez questão de dizer (e obviamente zoei ele muito na hora por isso), "nós entendemos, também somos artistas". Ainda que cada um a seu modo, todo mundo sabia o que era ser desaprovado. E ser plateia cativa praquela dupla, por mais que lhes faltasse um pingo de talento, fazia muito bem pra alma.
De Pearl Jam a Carcará, com direito a muito Belchior (que havia falecido na noite anterior), transformamos uma catástrofe em uma das noites mais divertidas que já tivemos num boteco. Tomamos cerveja barata, garrafas e mais garrafas de pinga com mel e a estalajadeira foi literalmente colher limão do pé pra caipirinha que a Amanda tinha pedido. Foi emocionante, e a letra de "A Palo Seco" fez mais sentido do que nunca naquele momento...
"E eu quero é que esse canto torto 
Feito faca, corte a carne de vocês 
E eu quero é que esse canto torto 
Feito faca, corte a carne de vocês.."
E nessa hora aconteceu o terceiro momento mágico místico da viagem. Um cara que trabalhava comigo tinha tatuado no braço a frase "Meu coração é como um bar vazio tocando Belchior". Sempre achei incrível o quanto se podia dizer com uma única frase. E de repente, eu e meus amigos tínhamos ido parar dentro daquela tatuagem. Pouco depois, o bar começou a encher novamente. Com ainda mais gente do que tinha antes. Foi show, literalmente. Nessa altura da viagem, obviamente eu já era reconhecido como aquele que mais se importava com coisas banais como higiene e limpeza. Por isso, na madrugada, acordei com o Kev tentando jogar um cachorro de rua em cima da cama onde eu estava dormindo com a Manda (o que só não aconteceu por que o Raff, com quem eu dividia o quarto não deixou). E o mais legal foi que no dia seguinte, quando eu comentei da cena com a Manda, ela me disse que na cabeça dela tinha sido só um sonho.

Na segunda-feira, acordamos cedo, tomamos café mais uma vez nas senhorinhas pseudo-portuguesas do Rio Grande do Sul e descobrimos que o "amigo" do Raff tinha falado que ele podia dar carona pra uma menina até São Paulo. Fora o fato de que a viagem ficaria muito menos confortável em 5, a tal amiga não era exatamente uma pessoa qualquer. Ela estava de mudança pra Bolívia, levando apenas vinte reais no bolso e o Diggerydoo e o Carron que usa pra fazer o que ela mesma definiu como "tecno orgânico". Ou seja, tava cheia de tralha, não tinha grana pra ajudar na carona e o instrumento ainda estava fedendo mijo (Ela: "Meu gato mijou na minha manta ontem a noite". Eu "Ah, e tá la atrás a manta? No porta-malas?" Ela só fez que não com a cabeça e apontou pro instrumento ao meu lado).
Assim, depois de 4 longas horas em uma viagem de vidros abertos, finalmente chegamos em São Paulo. Prontos pra tomar os banhos mais longos de nossas vidas e lavar nossas roupas até o nível subatômico. 
Foi rootz. Rootz pra caralho. Muito mais do que eu sequer poderia imaginar (tanto que a Manda não quer mais nem que essa palavra seja pronunciada em casa). Mas eu não posso reclamar. Vou ficar apenas com as lembranças boas e são perrengues assim que geram boas histórias. E se tem uma coisa que eu gosto é de viver boas histórias. Do tipo que nenhum hotel de luxo seria capaz de oferecer.