segunda-feira, junho 27, 2016

Shwarma, Chai & o maravilhoso mundo das comidas de nome complicado

Esse foi um daqueles finais de semana que eu praticamente fiz tudo que planejava. Coloquei a leitura de muitas hqs em dia (inclusive da boa Civil War 2), joguei muito Witcher 3 (finalmente salvei a Ciri!), assisti bons filmes e conheci novos lugares que servem comida boa e diferenciada a preço justo.
Sábado no almoço fui com a Manda conhecer o Vovô Ali, um restaurante libanês bom, bonito e barato escondido no centro onde comemos um ótimo Shwarma, kibes e doces de nozes. E na volta pra casa, ainda paramos na Little Rock Coffee, uma cafeteria pela qual eu passo diariamente mas nunca tinha visitado, onde paramos pra comer um waffle com nutella e um bolo de churros e aprendi o que é um chai. Legal ser velho e poder conhecer gostos novos e isso é exatamente o que esse maravilhoso chá com leite e canela é. Novo, diferente, e uma ótima opção pra um dia frio bem do lado de casa. E o pessoal da cafeteria até faz o chá sorrir pra você! :)
Acordei da tradicional soneca da tarde, e tinha um amigo pirata perdido pela Augusta precisando de um porto onde pudesse parar seu navio antes de ir pra uma festa mais tarde. Compramos uns litrões, jantamos amendoins e colocamos as fofocas sobre Westeros em dia (de quebra, consegui até uma senha pra assistir ao último ep de GOT na GO). Ele zarpou e assisti com a Manda a divertida propaganda pró-diversidade da Disney que é Zootopia.
Domingo demos uma volta no Shopping Light (como costumávamos tanto fazer antigamente), almoçamos no Mc (dois big Macs pelo preço de um, muito barato!), tiramos uma soneca, li umas hqs de Star Wars e as mil coisas do Morrison que decidiram lançar de uma única vez no Brasil em encadernados (Homem-Animal, Miracleman Anual e a fenomenal Patrulha do Destino), dançamos e pulamos no Kinect ("What does the fox saaay?"), jantamos lanches de carne caseiros e assistimos ao surpreendente (principalmente porque eu não esperava muita coisa) "Truque de Mestre", disponível atualmente na Netflix.

segunda-feira, junho 20, 2016

Riscando mais uma meta da lista

Todo mundo sabe que o que eu mais curto na vida são HQs, então nada me daria mais prazer na vida do que trabalhar com isso, quem sabe escrevendo minhas próprias histórias, certo?
Infelizmente, é improvável que um dia elas se tornem quadrinhos. Tempo é uma coisa escassa e como desenhar, arte-finalizar e inserir os balões demora demais, jamais conseguirei terminar qualquer projeto que planejei nesse formato. 
Pra não desistir de vez, comecei a focar na escrita de contos e comecei a enviá-los para dezenas de editoras. 
Hoje recebi pelo correio o primeiro fruto dessa saga: uma história minha impressa!!!Num livro!!! Físico!!!De verdade!!!
Não é nada demais, só um pequeno conto dentro de uma antologia que divido com outros autores. 
Mas não deixa de ser um começo. E isso já me deixa bastante satisfeito (principalmente porque já tenho também a aprovação pra mais alguns outros lançamentos que vão sair ainda este ano).Disponível agora no livro "Seres Amazônicos" (uma coleção de adaptações de lendas do folclore brasileiro), o meu conto é basicamente update da lenda do Saci Pererê. Um conto sobre um caseiro alcoolatra que começa a ter problemas quando se torna amigo de um recém-chegado que usa boné do MST e tem uma prótese no lugar da perna. ;)

Santo Antônio, São Benedito e santos camafeus

Sexta-feira inesperadamente acabou rolando uma carona de volta pra Jau com a Lady Verys. Saindo do trabalho, eu e a Manda demos um tempo em casa e as dez da noite colamos no "primeiro ape de sp", pra esperar o Vyctor. Chegamos em Jau de madrugada, deixei a Manda que tava derrubando tudo de sono na casa dela, e mesmo sendo bem tarde, meus pais ainda nos esperavam acordados com lanches do Rospinho, cervejas e docinhos de quermesse (tipo camafeus de damasco) pra gente colocar a conversa em dia.
Além disso, teve continuidade a "rodada de presentes fora de época" (como é bom ter gente que sempre viaja por perto), e ganhei várias coisas que eu não esperava (e queria!), como um vaso de groot dançante, HQs (como Preacher n. 1 reimpressa com a nova capa baseada na série da AMC), uma garrafa metálica da Coca e manteiga de garrafa.
Quando fui dormir já eram quase 3h da manhã, o que fez com que eu acordasse tarde no sábado. Mal deu tempo de ler algumas hqs e assistir um pouco de Netflix que já estávamos saindo almoçar um "churrasquinho", que na verdade era um puta rodízio no tradicional restuarante na beira da estrada pra Bauru. 
Comi como um ogro muito queijo gorgonzola, azeitonas, picanha, carneiro e todo tipo de corte de vaca possível, abacaxis e churros naturais (bananas empanadas com açúcar) que meu corpo conseguiu suportar e depois tive que hibernar durante boa parte da tarde pra conseguir sair de casa novamente a noite.
Busquei a Manda na casa dela e fomos pra tão falada quermesse de Santo Antonio, uma pequena igreja que vem causando comoção entre suas devotas. Não foi nem difícil achar a igreja, já que tinha centenas de carros parados por ali e tava difícil até achar lugar pra estacionar. Pelo menos, achar minha família foi fácil, já que como não tinha lugar pra sentar dentro das enormes tendas armadas ao redor do lugar, e quando chegamos eles estavam parados ali perto da entrada. Comemos fogazzas, sofremos com a música de um moleque de seis anos que algum pai mentiroso fez acreditar que tinha talento e ouvimos sobre o golpe que a igreja estava tomando. Sim, hoje em dia nem a Igreja está segura! Alguém estava clonando as fichas da quermesse e dando um prejuízo de quase mil reais pro padre! Ah, humanidade! Tudo bem, vamos fizemos o sacrifício de comprar mais alguns docinhos (tinha até camafeu de churros) pra ajudar! 
Saindo de lá fomos encontrar o Sustinho no Armazém São Benedito pra umas cervejas e filosofar sobre a vida, o universo, dificuldades da vida e tudo o mais, e comer uns amendoins e canapés. O ambiente é bem rústico, e com as portas fechadas por causa do frio, o cheiro de mandioca do fogo, e os pinicos porta-papel-higiênico nos banheiros, nunca pareceu tanto com uma fazenda.
Domingo mais uma vez acordei tarde, li uma hq clássica do Donald (ou Paperino, como o chamam na Itália), deixei a Manda na casa da vó dela (que ta com a perna esquerda toda batida, como se tivesse sido mordida por um zumbi) e fui com minha família almoçar no Italo. Que, diga-se de passagem é o restaurante com o melhor couvert (não cobrado) da cidade, quiça do mundo. Pães, paté de alho, patê de beringela, maionese caprichada, coalhada e manteiga a vontade. É tanta comida, que pedindo só um prato (que também é bem servido) pra cinco, consegui sair de lá cheio, não satisfeito, cheio mesmo, do tipo "chegando em casa preciso hibernar de novo" e "nem preciso de janta", meu tipo favorito de cheio. Dormi, busquei a Manda, tomamos café com meus pais e os V´s e voltamos pra Sp acompanhados do pôr-do-sol. Se a vida tem passado voando ultimamente, o final de semana então nem se fala. Ah, além de tudo isso, a editora do Rio enviou pra casa meu livro! Mais sobre ele no próximo post. :)

quinta-feira, junho 16, 2016

Craft Essays by Chuck Palahniuk Parte 3 - "Encontrando diferentes formas de pontuar passagens de tempo"

Relógios mentem. Certo dia alguém teve a brilhante ideia de dizer que o tempo passava igual pra todo mundo. Como se qualquer idiota não soubesse que não é assim que funciona.
Uma criança não conta o tempo da mesma forma que um idoso. 
Alguém prestes a encontrar seu grande amor não conta o tempo da mesma forma que alguém que está com medo de chegar atrasado ao trabalho.
Nem as unidades de medida são as mesmas para qualquer pessoa.
Um médico conta o tempo em pacientes. Uma dentista conta em dentes.
Um jornalista mede o tempo com palavras. Ilustradores usam imagens.
Uma pessoa com tédio não mede o tempo da mesma forma que uma pessoa que está se divertindo. 
Um filme no cinema pode ser medido pela quantidade de pipoca restante em seu balde.
No trabalho, você pode contar o tempo com músicas. Em festas, pode fazer isso usando latas de cerveja (até a hora em que, obviamente, isso se tornar impossível porque o próprio conceito de tempo deixará de importar).
Um taxista pode medir o tempo em "distância" e "passageiros". Enquanto seus passageiros o fazem com "possibilidade de trânsito" e "rotas suspeitas".
As mulheres contam o tempo através das novelas da Globo, enquanto seus maridos esperam a previsão do tempo do telejornal.
Os mais velhos se guiam através das cores de seus remédios. Duas pílulas azuis acompanham o nascer do sol. Três comprimidos vermelhos significam que o almoço está prestes a ser servido. Pílulas verdes antecedem o café da tarde e dois comprimidos laranjas te colocam pra dormir.
Não que nada disso importe. Eu só precisava escrever qualquer coisa para matar o tempo.
Desculpa a bagunça.
Agradeço seu tempo.

terça-feira, junho 14, 2016

Azul e frio

Sexta-feira fui com a Manda e um casal de amigos dela da pós no Jeti´s Burger, que abriu como sendo a Jedi´s burger, um lugar totalmente inspirado em Star Wars, mas que antes que eu pudesse visitá-lo sofreu um processo (que era inevitável) e teve que trocar todo o material que usava por naves e robôs genéricos. 
Mesmo depois da troca, a experiência ainda é válida. O restaurante todo parece o interior de uma espaçonave e tem hamburgers com pães coloridos (azuis, verdes, vermelhos, pretos e amarelos) que dão um ar bem alienígena pro rolet. Tinha chopp, as porções eram boas e o lanche também. A saga alienígena continuaria no dia seguinte, no banheiro...afinal, nem só a entrada foi colorida. \_(ツ)_/¯
No sábado, acordamos praticamente na hora do almoço, li algumas hqs, joguei videogame e pouco depois já estavamos nos agasalhando pra ir no churrasco de aniversário do Kevin. 
Supostamente era uma das noites mais frias do ano, mas algumas cervejas, vinis tocando, doses de cachaças, e espetos de carne depois, os gorros e jaquetas começavam a ser deixados de lado. Sempre bom rever o pessoal da faculdade, algo que fica mais raro a cada dia que passa.
No domingo, graças ao frio e a crise, eu e a Manda tivemos um Dia dos Namorados pouco agitado. Não fomos a nenhum lugar especial (almoçamos no Marajá, o primeiro lugar pra onde corremos quando ficamos sem comida), assistimos um filminho na Netflix e jantamos foundue feito em casa. O que não significa que foi ruim. Afinal, muita gente só sai de casa porque não tem pra onde ir e esse já é o segundo ano no nosso próprio lar. Um lar que eu gosto de considerar grande pra SP, recheado de cobertas e com o melhor banho quente do mundo. Ah, a comida também não estava nada mal e gastamos pouco pra comer bem (mesmo no Marajá, os funcionários já reclamavam de poucos clientes e as pessoas na fila do caixa reclamavam do valor da conta). Em resumo, por mais que a situação ecônomica atual esteja um lixo, tudo fica bem menos insuportável quando você está com alguém que você ama. Feliz dia dos namorados, Manda! <3

segunda-feira, junho 06, 2016

Craft Essays by Chuck Palahniuk Parte 2 - Um conto com respaldo jurídico

Continuando os exercícios de escrita do Chuck, apresento uma abertura onde utilizo o narrador-cérebro...

O primeiro emprego que eu tive na vida foi na área de Direito como assistente de um Procurador de Justiça cujo principal trabalho era dar seu parecer em pedidos de habeas corpus
Trabalhei com ele durante bastante tempo, o suficiente pra que essa se tornasse a matéria que eu melhor entendia na faculdade, o que inclusive fez com que habeas corpus se tornasse o tema de minha monografia de conclusão de curso.
A expressão é latina ("tome o corpo") e sua forma completa, na verdade, é habeas corpus ad subjiciendun, fórmula com que, na Idade Média, se iniciavam os documentos escritos pedindo a liberação de um prisioneiro para se discutir a legalidade da sua detenção.
O Código de Processo Criminal do Império do Brasil, de 1832, foi o primeiro texto legal brasileiro a reconhecer este instrumento básico de proteção do direito individual. Um direito que hoje está previsto na Constituição de 1988, ainda em vigor. Segundo o artigo 5º., inciso 68: "conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de lomoção, por ilegalidade ou abuso de poder".
Por garantir  um direito fundamental - o direito à liberdade - o habeas corpus pode ser solicitado por qualquer pessoa, independentemente da presença de um advogado ou de outra pessoa qualificada. Na verdade, não é necessário nenhum tipo de documento ou formulário específico para se requerê-lo. Na prática, isso signfica que diversos dos pedidos que eu e meu chefe costumávamos revisar eram redigidos à mão pelos próprios detentos (ou por seus filhos ou mulheres), em folhas soltas e sujas de cadernos de penintenciárias, com todos os garranchos e erros gramaticais que você possa imaginar.
Existem dois tipos de habeas corpus: o preventivo, que visa impedir que o seu direito de liberdade seja agredido, antes de ocorrer a prisão; e o liberatório, quando a prisão já ocorreu e se requer a libertação por ofensa a um direito constitucionalmente garantido. O mais comum é obviamente o liberatório. Afinal, todo mundo geralmente sempre deixa tudo pra última hora.
É uma medida relativamente simples de se usar, mas apesar de até hoje eu lembrar de bastante coisa sobre esse tema, e principalmente depois da virada drástica que minha vida deu no mercado de trabalho em direção à Publicidade, achei que nunca usaria esse conhecimento pra nada. Sempre fui um cidadão de bem, que jamais faria nada que remotamente pudesse me levar a ser preso. Só que isso foi antes de eu morrer. Antes de eu ficar sabendo que as leis da Terra continuavam válidas no pós-vida. E definitivamente antes de eu começar a escrever meu próprio habeas corpus pra tentar sair do Inferno.

Bons drinks e boa companhia em Jahu

Depois de praticamente um mês sem voltar pra Jahu, eu e a Manda conseguimos carona exatamente com a velha turma Ed & Ad, como costumávamos fazer praticamente todos os finais de semana de um ano atrás. Bom que tinha muito papo pra botar em dia e a viagem passou voando. E falando em viagem, chegando em Jau eu tinha muitas boas histórias da última viagem de meus pais à terra do Pinocchio pra ouvir enquanto comíamos o tradicional lanche do rospinho acebolado com cerveja. E de sobremesa, ainda tinha cookies, chocolates de viagem, mais de 15 lembrancinhas e uma dose de limoncello pra fechar a noite. 
Entre os presentes, estava uma hq disney com clássicos do Carl Barks e um fumetti de 93 do Dylan Dog, simplesmente meu personagem italiano favorito. Ler um livro em italiano acredito que não seja tão facil, mas com a ajuda das figuras, é quase como ler algo em espanhol com um sotaque levemente diferente. Lendo rápido, dá pra entender tudo de boa.  
Sábado de manhã, acordei tarde (umas 10h), li um pouco, assisti "Zerando a vida" com meu pai (e foi muito mais engraçado do que eu esperava, o filme é realmente bom), fui com meus pais almoçar no Zezinho, cochilei, assisti um pouco de TV e li um livrinho sobre Florença que minha mãe trouxe (que me deu até ideias pra um novo livro infantil).
A noite, passei pegar a Manda e fomos comemorar o aniversario do Sustinho num churrasco (cois que eu não fazia ha muito tempo, já tava até com saudades), onde comemos quiçá o melhor bolo que já comi na vida (de leite ninho com nutella, feito pela sogra dele) e tomamos umas doses de Mama Juana, bebida que ele tinha trazido de Punta Cana (fds cheio de drinks temáticos de viagens). 
No domingo de manhã, caiu um dilúvio sobre Jau. Então depois de acordar, eu praticamente tive que pegar um barco pra passar no açougue do Dia comprar carne com a Manda. Deixei ela na vó dela e fui com meus pais almoçar na casa de uma prima da minha mãe que estava fazendo aniversário e servindo algo que minha mãe dificilmente me levaria pra comer em qualquer outro lugar: feijoada! E tava tão boa que comi três pratos. O que obviamente, me fez capotar pela maior parte da tarde, até a hora de sair buscar a Manda pra ela jantar rapidinho da doceria Renata e eu pegar uma paleta mexicana no Lian. Chegamos em casa praticamente ao mesmo tempo que a carona, e três horas depois, chegávamos em São Paulo junto com a chuva. Que fds corrido, parece que a Terra gira cada vez mais rápido!


sexta-feira, junho 03, 2016

Craft Essays by Chuck Palahniuk Parte 1 - Um conto ripper

Um dos meus escritores favoritos atualmente é o Chuck Palahniuk (autor do Clube da Luta). Ele dá uns workshops de escrita online, e peguei alguns exercícios pra fazer. Na primeira aula, ele diz que existem dois métodos de fazer seu leitor ser fisgado pelo seu narrador: utilizando o narrador-cérebro ou o narrador-coração. 
Para fisgá-lo pelo cérebro, você precisa ser técnico o suficente pra ele entender que você realmente é expert no assunto (algo que exige tempo e pesquisa). 
Para fisgá-lo pelo coração, basta revelar algo pessoal e emocional, para que o leitor simpatize com sua sinceridade e, em seguida, passe a acreditar em tudo que você diz. Por mais que aquilo que venha a seguir não passe de uma grande mentira. Esse é o resultado do meu exercício no qual eu tento construir um texto com o "narrador-coração". Enjoy!

O colegial foi o melhor dos tempos. Ao mesmo tempo, foi o pior dos tempos. Uma época em que meus melhores amigos eram simultaneamente meus piores inimigos. Eu me diverti pra caralho e confiava neles, mas também vivia me preocupando com o fato de que a qualquer momento alguem poderia estar aprontando alguma coisa comigo. Mas a recíproca também era verdadeira. Eu não era nenhum santo. Não que fizéssemos algo grave, só brincadeiras idiotas (na maior parte do tempo), que (geralmente) não faziam mal a ninguém. Apenas o necessário pra modelar o caráter. Pra te deixar mais esperto. 
Naquela época, por exemplo, todas as matérias eram reunidas em uma única e gigantesca apostila bimestral. Então os professores guiavam as aulas do dia pelos números indicados no canto inferior das páginas. Acontece que, se eu me descuidasse por um único minuto, alguém rapidamente passaria uma tesoura na borda de minha apostila e eu ficaria perdido até o início do próximo bimestre. E geralmente fazíamos isso no dia da entrega da apostila. Aprendi na marra a decorar onde os professores tinham parado na aula anterior.
Mochilas eram carregadas de pedras assim que o dono delas desviasse o olhar. Ou pior. Alguém viraria as próprias lixeiras das salas de aula dentro das mochilas. E você poderia chegar em casa com cascas de banana ou restos de chocolate melecando seu moletom. No primeiro ano, aprendi que mochilas eram um item supérfluo.
Aviões de papel carregados com pó de giz sobrevoavam a classe. Os uniformes brancos geralmente voltavam pra casa cheios de manchas coloridas. Aprendi a desconfiar de qualquer coisa suspeita que passasse voando próxima a minha carteira.
Se alguém dormia na aula, poderia acordar sem pertences, queimado, com um chapéu de palhaço e bilhetes nas costas. Assim aprendemos a dormir sonos leves, como caçadores de vigia numa selva.
Piadas ruins eram punidas com murros nos braços. Em um tempo em que minhas maiores inspirações na vida eram Chandler Bing e Jerry Seinfeld. Todos meus amigos tinham os braços roxos, aqueles roxos de boxeador, com as bordas amareladas, que nossos piores inimigos jamais deixariam. Era nosso próprio Clube da Luta. Gosto de pensar que, com o tempo, aprendi a ser mais engraçado e a pensar mais antes de falar.
Estojos eram colados nas carteiras (com cola ou pregos), e isso quando a própria carteira onde eu sentava não era sorrateiramente levada pra fora da sala enquanto eu saía pra dar uma mijada. Ao retornar pra classe, não havia mais lugar para sentar. Tínhamos que estar preparados pro imprevisível.
Diz a lenda que alguns chegavam a mijar no catchup da cantina. Isso eu não posso confirmar, mas ainda assim, sempre optei por não usar nada no meu salgado.
Bebidas batizadas com laxante, carros movidos de lugar no estacionamento graças ao esforço comum de seis sacanas, cigarros explosivos, cuecas no ar condicionado, pelos queimados com isqueiros. Bons tempos. 
Houve uma única vez que me deixou irritado de verdade. Estávamos fazendo um churrasco durante o inverno na casa de um amigo. Alguém decidiu usar o banheiro externo da edícula, que ficava próximo da churrasqueira. Me apontaram uma escada, disseram pra eu subir no telhado do banheiro e, lá de cima, molhar o cagão com a mangueira através da janela. Me senti o rei da malandragem. Só que assim que eu cheguei no telhado, os mesmos filhos da puta que me deram a brilhante ideia retiraram a escada que eu deixei apoiada na parede, me deixando preso lá em cima. E quem tomou um banho gelado, num frio de lascar, fui eu. 
Fiquei com vontade de pular, mas o telhado do banheiro era muito alto. Eu ia me quebrar inteiro. Assim, fiquei tomando baldes de água na cabeça até que meus amigos se cansassem da piada. Quando finalmente me deixaram descer, eu estava tão irritado que a bebedeira já tinha passado e voltei andando, emburrado e sozinho para casa (que ficava a uns 8km de distância). No fim, admito que até essa foi uma boa lição. Aprendi a não tentar querer ser mais esperto que os outros.
Hoje, no "mundo dos adultos politicamente corretos" não convivo mais com amigos que pregam peças uns nos outros, que vivem se julgando e criticando duramente qualquer atitude fora do normal. E sinceramente sinto falta disso. Com o tempo, sinto que fiquei mais mole, mais despreparado pra vida (que é na verdade muito mais sacana que meus amigos).
Se ainda tivesse alguém me criticando sempre que eu comesse uma única batata frita a mais, como costumávamos fazer uns com os outros antigamente, quem sabe eu não teria engordado tanto depois de deixar o colegial. 
De qualquer forma, isso não importa. Essa história não é sobre como eu sobrevivi sem meus amigos. Esse é o relato do dia em que, graças a uma de nossas brincadeiras, uma garota morreu.