Posso citar pelo menos três frases de cada um dos personagens principais de cada um dos filmes anteriores.
Sei de cor o roteiro de todos eles. Afinal, eu os assisti dezenas de vezes, li suas versões literárias e em quadrinhos; e terminei seus jogos em mais de uma plataforma.
Os heróis e vilões estão estampados em minhas camisetas, estantes, panos de prato, chinelos e cuecas.
Meus armários estão repletos de seus brinquedos.
Respiro a saga desde que entrei na puberdade.
Entretanto, infelizmente não pude assistir ao sétimo episódio na pré-estreia, que aconteceria na madrugada da penúltima quarta-feira do ano.
A Amanda tinha que acordar cedo no dia seguinte.
Eu tinha ingressos antecipados, mas a data impressa neles era para o domingo.
Quatro dias de atraso.
Aparentemente, deria ser fácil desviar de qualquer spoiler nesse curto período de tempo.
De qualquer forma, fraquejei quando o dia da estreia chegou.
Saí desesperado em busca de ingressos de última hora.
Não havia nenhum online, então visitei pessoalmente três shopping centers diferentes.
Tentei até mesmo barganhar alguns assentos exclusivos para deficientes.
Tudo em vão.
Não havia um único assento disponível nas centenas de salas de cinemas da cidade que exibiriam o filme.
Valeu a tentativa.
Instalei um plug-in no meu navegador que bloqueava qualquer conteúdo relacionado ao filme.
O bloqueio funcionou bem, mas ainda assim não foi o suficiente.
Eu deveria saber. Nem mesmo uma estação de batalha Imperial do tamanho de uma lua equipada com um superlaser destruidor de planetas é totalmente a prova de falhas.
Na sexta-feira, enquanto navegava por uma publicação sobre hábitos alimentares, que não tinha nada, realmente NADA a ver com cinema, alguém fez um comentário no qual detalhava boa parte da trama, bem como o final do filme.
Cliquei no x na lateral direita do navegador desolado. Desacreditado.
Porque alguém se daria ao trabalho de comparecer a uma pré-estreia, para logo em seguida sair espalhando as surpresas do filme pela internet em publicações aleatórias? Não podia ser verdade, certo?
Qual seria a motivação de um delinquente assim?
Não, não podia ser verdade. A pessoa provavelmente estava apenas brincando.
Só por via das dúvidas, salvei seu perfil em minha aba de "Favoritos".
Domingo fui com a Amanda ao cinema.
E assisti exatamente a estória que havia sido profetizada no comentário.
Saí do cinema triste e chateado. Traído, como se alguém tivesse trespassado um sabre de luz no meu peito.
Saí do cinema com dois objetivos em mente.
Um deles seria nunca mais perder uma pré-estreia de tamanha importância.
O segundo dizia respeito ao autor do comentário. Ele merecia uma lição.
Nada mais justo. Mera questão de legítima defesa.
Na segunda-feira, perdi boa parte da minha manhã estudando o perfil do autor do comentário.
Em poucas horas, já sabia seu nome, quem eram seus melhores amigos, sua família, seus hobbies e os lugares que frequentava.
No dia seguinte, acordei cedo e o esperei.
Assim que o vi, tirei um martelo de carne do bolso de meu manto e moí sua cabeça, antes mesmo que o maldito tivesse tempo de terminar de descer do carro de sua mãe.
Sua lancheira do "Mundo de Gumball" rolou pela calçada.
As outras crianças começaram a gritar e a chorar, ao perceberem a cabeça de seu colega estraçalhada pelo martelo.
"Monstro".
"Era apenas um filme" — diziam os críticos. — "E ele era só uma criança".
Valores subjetivos.
A única coisa que me importa é saber se meu advogado vai conseguir me tirar da cadeia antes do final do ano que vem, antes do lançamento do próximo filme.
Espero que o pequeno rebelde goste dos spoilers da vida após a morte.
(Conto baseado em fatos e desejos reais)