quinta-feira, abril 13, 2023

Orelha de concha

 Na ultima vez que voltei pra Jau, um final de semana antes da Páscoa, achei que ia ficar maluco. Quando desci do carro na casa dos meus pais, o barulho da rodovia veio junto comigo, na forma de um zumbido constante no meu ouvido esquerdo. 

Basicamente, eu tinha passado o dia todo em ligações, usando um fone airpode rachado, que eu tinha acabado de comprar. Os fones chegaram na terça, derrubei o fone esquerdo no chão na quinta e na sexta usei o airpod zuado por mais de 5h seguidas. Ou seja, pedi pra dar merda. Wile E. Coyote, Inventor e gênio.

Liguei o ventilador pra dormir e o zumbido dele ajudou pelo menos a igualar o incomodo entre os dois ouvidos. Mas quando acordei e o zumbido continuou, achei de verdade que ia enlouquecer. Já tem vozes demais palpitando na minha cabeça, eu não seria capaz de aguentar um novo som me incomodando.

Felizmente, meu pai me deu um remédio (junto com a já tradicional salada de frutas matinal) e algumas horas depois, tudo voltou ao normal. 

Mas durante algumas horas senti muito medo de que a partir daquele momento eu tivesse que comer a ler quadrinhos com os carros passando zunindo na minha cabeça. Ou que eu tivesse que ir dormir dentro da turbina de um avião pra encontrar um pouco de conforto. 

Ou seja, alguns dias temos que ser gratos pelo silêncio.

quarta-feira, abril 05, 2023

A capital do congestionamento

Poucas coisas me deixam mais feliz pela manhã do que a uber ou a 99 me enviarem um taxi quando peço um carro pelo aplicativo. Isso significa que vou poder deslizar pela faixa preferencial dos ônibus, e chegar ligeiramente menos atrasado no trabalho. Afinal, como a Amanda gosta de repetir, eu sou uma daquelas pessoas que acordam cedo porque gostam de se atrasar com calma. 

Se eu estou dirigindo, acabo sempre me irritando com alguma coisa. Com a lentidão do transito, com os outros motoristas cortando minha frente, com motoqueiros levando o retrovisor.

Eu realmente admiro quem consegue dirigir nessa cidade mantendo a paciência. Pra mim é uma experiência traumatizante desde que eu era criança. Meu pai sempre teve a coragem e paciência que a cidade exige, mas sempre me lembro das discussões com minha mãe ou minha tia, dos mapas impressos que os neanderthais pré-waze tinham que carregar no carro e das infinitas voltas que a gente dava pra chegar de um lugar a outro. Era tanta volta, tanta demora, que eu sempre dormia. 

E assim, admiro quem dirige de boa por São Paulo com a mesma admiração e respeito que tenho por alguém que cospe fogo ou pula de bungee jumpee. Acho legal que existam pessoas que fazem isso, mas não tenho nenhum interesse em ser uma delas.

O Waze ajuda demais. Ele escreve certo por linhas tortas, mas sempre te leva onde você precisa e do jeito mais rápido possível, por mais que pareça não fazer sentido na hora.  Os "antigos" podem até não confiar nele, mas eu sei o quanto esse app já me ajudou. Já não basta o caos do transito, Deus me livre de ter que me preocupar também com os caminhos.

Ou seja, o transporte via carros de aplicativo pra mim são uma das maiores invenções recentes da humanidade. Graças a eles eu não tenho que me preocupar com direção, caminhos, pedintes, malabaristas, vendedores de bala, palhaços, acidentes, assaltos, motoqueiros, engolidores de espada, batidas, gasolina, zumbis da cracolândia, engarrafamentos, protestos, manutenção do automóvel, lavadores de vidro, rampas, alagamentos, buracos e os absurdos cobrados pelos estacionamentos nessa maldita metropole cinzenta.

E nos dias de sorte, nos dias realmente bons, o meu motorista tem passe livre pela preferencial, e aí é só alegria, ou como dizem por aí, "uma mão na roda".